O sol já se despedia quando ajeitei a manta sobre Yves, garantindo que ele estivesse quentinho no carrinho. O bebê dormia profundamente, os pequenos lábios entreabertos, as bochechas coradas. Era impossível não sorrir.
Milles surgiu da cozinha com um prato de macarrão instantâneo e duas garrafas de refrigerante.
— Jantar de pai solo — disse, sentando-se no sofá. — Não julgue.
— Estou te ajudando a criar um ser humano. A última coisa que farei é julgar seu macarrão — peguei o prato dele e provei uma garfada. — Hm. Comível. Para um zumbi faminto.
Milles fingiu uma expressão ofendida, mas riu em seguida. Comemos em silêncio por alguns minutos, compartilhando o tipo de calmaria que só existe entre velhos amigos.
— Você nunca pensou em ter filhos? — ele perguntou de repente.
Desviei o olhar, como se a pergunta me empurrasse para um canto do passado.
— Já pensei, sim. Mas... nunca consegui me imaginar criando alguém sem saber quem eu sou de verdade.
Ele franziu a testa, tentando entender.
—