Mundo ficciónIniciar sesiónLucy tem dezesseis anos quando descobre que é herdeira de um castelo em uma cidadezinha do interior, mas ao chegar lá ela percebe que nem tudo é o que parece. Sua família é conhecida por praticar bruxaria, a cidade apesar de parecer ter conseguido chegar no século XXI ainda mantém os mesmos pensamento de séculos passados, onde acreditavam que as bruxas deveriam ser queimadas. Lucy conhece Cedrik, um menino misterioso que deixa bem claro que não quer nada com ela, mas existe algo nele que a fascina, mesmo que ela não saiba dizer o que é. Ela também não sabe que a maldição dos Sales condenou toda a cidade a viver o mesmo loop por século. A cada cem anos um Howard e um Sales se apaixonam, mas eles nunca vivem esse amor, pois um sacrifício deve ser feito ou então a cidade inteira se queimará junto com eles.
Leer másA chuva desabava sobre Cameron, um véu de água que transformava as ruas de paralelepípedos em rios lamacentos. Relâmpagos rasgaram o céu, iluminando por instantes as colinas escuras que cercavam a cidade, como sentinelas de um segredo antigo. No centro de um campo deserto, uma mulher de longos cabelos vermelhos se ajoelhava ao lado do corpo inerte de um homem. Seus soluços cortavam o ar, misturando-se ao rugido do vento e ao tamborilar incessante da tempestade.
— Volte, por favor... volte! — implorava, a voz embargada, enquanto suas mãos tremiam seguravam o rosto pálido do homem.A poucos metros, outra figura feminina jazia imóvel, os cabelos grisalhos espalhados na lama, como se a terra estivesse reclamando. O sangue que manchou sua roupa se dissolveu na chuva, um sacrifício silencioso. A mulher de cabelos vermelhos, Mary, parecia não notar o corpo da outra; seus olhos estavam fixos no homem, Dick, o amor que ela perdeu para a maldição que assombrava sua família há séculos.Um ronco tempestade de motor corta o lamento da. Faróis cortaram a escuridão, revelando as ruínas de uma cerca quebrada e a silhueta de um carro velho. Uma senhora desceu, o rosto marcado por rugas profundas e olhos que carregavam o peso de uma vida de segredos. Bethany Sales, a matriarca da família, caminhava com passos vacilantes, mas certos, até a cena trágica. Seus olhos caíram sobre o homem no chão, e um suspiro doloroso escapou de seus lábios.— Eu avisei que ele não conseguiria sozinho — disse, uma voz frágil, mas firme, como se repetisse uma verdade que ela já conhecia há muito.Mary traduz o rosto, as lágrimas misturando-se à chuva que escorria por suas bochechas. Seus olhos verdes, inflamados de dor, encontraram os de Betânia.— O que faço agora? — Disse, a voz tremenda, quase engolida pelo trovão que ecoou ao longe. — Ele foi, Betânia. Ele se foi, e ela... — Sua voz falhou ao olhar para a mulher morta ao seu lado.Bethany balança seu olhar, e um lampejo de angústia cruzou seu rosto. Ela se deslocou do carro, onde, no banco traseiro, um bebê dormia, alheio à tragédia que o cercava. A criança, embrulhada em uma manta desbotada, parecia intocada pela escuridão que engolia a noite. Bethany estendeu uma chave com mãos trêmulas, o metal frio brilhando sob a luz dos relâmpagos.— Leve-a embora, Mary. Tire-a de Cameron. — Sua voz era uma mistura de ordem e súplica. — Eu aguentei o máximo que puder para que ela não precise voltar.Mary pegou uma chave, hesitando. Seus dedos apertaram o metal, como se ele pudesse ancorar sua dor. Ela olhou para Dick, depois para o bebê, e finalmente para Bethany.— Se eu for, não volto — disse, com uma determinação quebrada. — Minha filha não será como vocês. Não será uma venda condenada por essa maldição.Bethany fitou o bebê, seus olhos marejados refletindo a luz fraca do carro.— A maldição da meia-noite não perdoe, querida. Ela voltará, mais cedo ou mais tarde. O sangue dos Sales sempre encontra o caminho de volta para Cameron. — Sua voz suavizou, quase um sussurro. — Mas farei o possível para lhe dar tempo. Lamento nunca mais vê-la.Mary abriu a boca para protestar, mas um brilho súbito chamou sua atenção. No pescoço do bebê, um colar simples, com um pingente em forma de meia-lua, pulsava com uma luz fraca, quase sobrenatural. Ela tocou o pingente, sentindo um calor estranho contra seus dedos gelados.— O que é isso? — Disse, a voz relacionada de desconfiança.Bethany hesitou, como se pesasse o quanto poderia revelar.— Hum, fardo. É uma esperança. — Ela fechou os olhos por um instante. — Guarde-o com ela. Quando o tempo chegar, ela saberá o que fazer.Mary segurou o colar, seus olhos voltados para o corpo de Dick. A dor atravessou como uma lâmina, mas ela se declarou, carregando o bebê nos braços. A chuva parecia mais pesada agora, como se a própria cidade chorasse por sua partida. Ela olhou para Betânia uma última vez, a silhueta da matriarca desaparecendo na escuridão.— Adeus — sussurrou Mary, antes de entrar no carro e acelerar para longe, deixando para trás o campo, os corpos e a maldição que ainda ecoava nas colinas de Cameron.Lucy ligou para Verônica, o coração disparado, sem saber como começar a conversa. — Eu vou embora — disse, antes mesmo de Verônica dizer “alô”.— Calma, o que aconteceu? — Verônica perguntou, ajeitando-se na cama, ainda sonolenta.— Vou embora amanhã! — Lucy repetiu, como se precisasse convencer a si mesma. — Minha avó deixou no testamento que eu devo morar em Cameron pra receber a herança.— E você vai? — Verônica perguntou, incrédula.— Como vou sustentar a casa se não for? — disse Lucy, a voz tremendo.— Mas tão rápido? — Verônica parecia chocada. — Você nem conhece essa cidade!— É complicado, mas tenho que estar lá na segunda-feira — explicou Lucy, sentindo o peso da decisão.— Vou aí agora — disse Verônica, decidida.— Não tava na praia? — Lucy perguntou, confusa.— Meu pai teve uma emergência de madrugada. Tô em casa. — Verônica desligou, e uma hora depois, estava na porta de Lucy, o cabelo preso em um coque bagunçado e óculos escuros cobrindo os olhos.— O que tá acontecendo?
Lucy entrou em casa, o coração acelerado, ainda digerindo a revelação do banco. A sala estava escura, iluminada apenas pela luz tremeluzente da televisão. Mary, sua mãe, estava esparramada no sofá puído, uma garrafa de uísque pela metade na mesa de centro. Seus cabelos ruivos, desgrenhados, caíam sobre o rosto, e seus olhos verdes, opacos, fixavam-se na tela. Lucy parou na porta, apertando o colar de meia-lua que tirara da gaveta antes de sair do carro. O pingente parecia quente contra sua palma, e por um instante, ela sentiu um pulsar estranho, como se ele soubesse dos segredos que Mary escondia.— O que foi? — Mary perguntou, erguendo os olhos, surpresa com o olhar intenso da filha.Lucy respirou fundo, a raiva borbulhando em seu peito. — Sóbria? Que novidade, mamãe — ironizou, a voz cortante.— Que tom é esse? Como ousa falar assim comigo? — Mary endireitou-se, mas sua voz tremia, denunciando a fragilidade por trás da fachada.— Por que não me disse que eu tinha uma avó? — Lucy vi
Lucy Sales, aos dezesseis anos, encarava seu reflexo no espelho rachado do quarto. A luz fraca da lâmpada tremeluzia, lançando sombras sobre as paredes descascadas da casa. Em suas mãos, uma faca de cozinha refletia o brilho pálido, pressionada contra o pulso. Seus olhos castanhos, vermelhos de cansaço, marejavam enquanto os cabelos avermelhados caíam em cascata até a cintura. Você não aguenta mais, pensou, a respiração entrecortada. A lâmina roçou a pele, e uma gota de sangue escorreu, mas a imagem de sua mãe, Mary, encontrando-a ali, sem vida, a fez recuar. A faca caiu no chão com um som seco, ecoando no silêncio.— Sou mesmo um fracasso — murmurou, enxugando as lágrimas com a manga da blusa.Seus olhos vagaram pelo quarto, parando em uma gaveta entreaberta do criado-mudo. Lá dentro, algo brilhou sob a luz fraca: um colar com um pingente em forma de meia-lua, que ela nunca usava, mas também nunca jogava fora. Era um presente de sua mãe, dado em um raro momento de lucidez, anos atrás
A chuva desabava sobre Cameron, um véu de água que transformava as ruas de paralelepípedos em rios lamacentos. Relâmpagos rasgaram o céu, iluminando por instantes as colinas escuras que cercavam a cidade, como sentinelas de um segredo antigo. No centro de um campo deserto, uma mulher de longos cabelos vermelhos se ajoelhava ao lado do corpo inerte de um homem. Seus soluços cortavam o ar, misturando-se ao rugido do vento e ao tamborilar incessante da tempestade.— Volte, por favor... volte! — implorava, a voz embargada, enquanto suas mãos tremiam seguravam o rosto pálido do homem.A poucos metros, outra figura feminina jazia imóvel, os cabelos grisalhos espalhados na lama, como se a terra estivesse reclamando. O sangue que manchou sua roupa se dissolveu na chuva, um sacrifício silencioso. A mulher de cabelos vermelhos, Mary, parecia não notar o corpo da outra; seus olhos estavam fixos no homem, Dick, o amor que ela perdeu para a maldição que assombrava sua família há séculos.Um ronco
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