Caíque Bueno, herdeiro de uma família tradicional e abastada, vê seu mundo, até então perfeitamente organizado, ser abalado ao cruzar com Mayara Gomes, uma garota de origem humilde, mas com uma determinação inabalável. Encontros inesperados dão origem a um amor proibido, mas o relacionamento é impedido por uma sociedade que julga pelas aparências e pelas diferenças sociais. Enquanto Caíque luta contra as imposições familiares e os preconceitos de seu meio, Mayara enfrenta os desafios diários de uma vida difícil e precisa lutar por seus sonhos. Quando boatos e crises ameaçam separá-los, ambos embarcam em uma jornada repleta de discussões e reviravoltas, na qual o verdadeiro valor do amor será posto à prova. "Em Busca do Seu Perdão" é a história de dois corações que, apesar de pertencerem a realidades tão distintas, vivem um relacionamento turbulento, marcado pelo afastamento e reencontro. No fruto do amor, encontram a força para dar uma segunda chance à sua história e alcançar um final feliz.
Ler maisNo passado…
Caíque
O sino da última aula ecoa pelos corredores da escola, anunciando o fim de mais um dia cansativo de estudos, julgamentos silenciosos e comentários maldosos da grande maioria dos alunos que se orgulham de serem os melhores. Demoro a guardar meu material na mochila, esperando que todos saiam para seguir o caminho já tão habitual.
Saio da sala de aula e, a cada passo que dou pelo corredor, sinto meu coração bater acelerado. Ao mesmo tempo, tento controlar meus pensamentos a mil e o nervosismo aparente, sem querer chamar a atenção dos outros alunos e professores.
À distância, tenho o vislumbre da sua silhueta e confirmo que ela já me espera. Em um canto pouco frequentado, atrás de uma porta entreaberta que leva a um antigo depósito, Mayara está sentada em uma poltrona desgastada.
Acelero os passos e, ao me aproximar, é como se nada mais importasse. Passo pela porta e, devagar, fecho-a o máximo que consigo. Mayara se levanta e vem ao meu encontro. Nossos olhos se encontram num silêncio que diz mais do que qualquer palavra poderia expressar.
— Mayara, eu… — inicio, hesitante, com a voz carregada de emoção. O que poderia dizer? Qual desculpa seria aceitável dessa vez para não entrar em contato? Ela acreditaria que eu estava de castigo sem acesso ao meu celular por não ser o primeiro lugar em uma competição composta por filhos de magnatas?
Ela sorri, um sorriso tímido, mas repleto de significado e esperança.
— Eu sabia que você viria.
Mayara se lança em meus braços e eu a abraço com força. O tempo parece desacelerar durante nosso abraço. Nesse breve instante em que a tenho em meus braços e a giro no ar, o ambiente se transforma; o mundo complicado em que vivemos é deixado do lado de fora. Ali, naquele recanto esquecido, conseguimos ser nós mesmos, sem influências ou críticas. Naquele cubículo, encontramos o conforto e a segurança para nos encontrar discretamente e viver um amor que, embora seja considerado proibido, sabemos ser intenso e verdadeiro.
Coloco-a no chão e noto que ela tenta conter o riso, refletindo o meu sorriso discreto. Pego os fios escuros de seus longos cabelos que estão por todo o lado e os jogo para trás. Com delicadeza, seguro seu rosto delicado entre as minhas mãos e tiro um tempo para observá-la na penumbra. Mesmo com o semblante marcado pelo cansaço de sua rotina, ela é linda: os longos cílios que emolduram seus olhos escuros e redondos, as sobrancelhas bem definidas, o nariz esculpido, as bochechas salientes e os lábios convidativos.
Aproximo-me e, suavemente, roço meus lábios contra os dela, enquanto ela fecha os olhos devagar. Com um suspiro, beijo-a, tentando transmitir toda a saudade que senti dela, de nós. Ela retribui com a mesma intensidade em um beijo urgente.
— Parabéns para nós. — sussurro.
— Parabéns! Um ano! — ela diz, envolvendo seus braços finos em minha cintura e me abraçando apertado.
— É, um ano. — Beijo sua testa. — Sinto muito por ter sido um ano difícil para nós… — começo a me desculpar, mas ela me interrompe.
— Logo tudo isso passa. Em alguns meses, vamos nos formar no ensino médio, meu aniversário se aproxima e poderemos ir embora. — Concordo. — Não desista dos nossos planos.
— Não vou desistir de nós. Não desista também. — Ela sorri e, com um brilho nos olhos, acena. — Trouxe algo para você.
— O que é?
Abro minha mochila e retiro uma caixa com trufas de chocolate.
— Aqui está. Não consegui te trazer algo maior, pois chamaria atenção. — Estendo a caixa para ela que aceita.
— Está perfeito! — Mayara me dá um beijo rápido. — Eu não consegui te trazer nada. Você sabe, ainda não recebi o pagamento do café… — Refere-se ao serviço meio período em que trabalha. Ela está com pagamento atrasado e mesmo que não estivesse, sei que todo o valor já está comprometido com os gastos de sua casa.
— Não se preocupe com isso. Estar com você é o melhor presente que eu poderia receber. — Digo, enquanto a aconchego em meus braços de novo.
Sento na poltrona e a coloco em meu colo. Em meio a trocas de carinho, conversamos em sussurros, confidenciando nossos sonhos, medos e repassamos os planos traçados ao longo deste ano. Em cada palavra trocada, a nossa cumplicidade cresce, sendo fortalecida pela certeza de que, naquele lugar escondido, somos livres para ser exatamente quem queremos.
Aqui, com minha namorada, encontro uma rara sensação de liberdade. Só com ela posso ser eu mesmo, sem julgamentos; com ela, tudo fica mais leve, mesmo quando o mundo é difícil.
Os minutos se transformam em preciosos instantes de intimidade, nos quais, por um breve período, nos permitimos curtir o momento e esquecemos todas as barreiras e dificuldades. Mas o tempo insiste em correr como sempre acontece quando estamos juntos.
— Nossa, preciso ir! — Confere as horas na tela do meu celular quando ele se ilumina com uma notificação de mensagem da minha mãe.
— Eu também. Não vou conseguir ir ao café hoje, tenho cursinho.
— Tudo bem, eu entendo. — Ela se levanta do meu colo e pega sua mochila do chão.
— Mas amanhã, trago alguns materiais do cursinho para você. Falei para minha mãe que ia doar para um colega de sala.
— Obrigada! Vou estudar um pouco mais por dia antes de dormir. — Recebo mais um abraço. — Agora e preciso mesmo ir. Até amanhã!
— Até! Eu e amo.
— Eu te amo também.
Mayara coloca mais um chocolate na boca e me dá um beijo rápido, nos despedimos com promessas de nos encontrarmos no dia seguinte e ela sai primeiro. Enquanto aguardo um tempo para sair, respondo à mensagem da minha mãe com a mentira de que estou a caminho de casa.
Após seus passos se afastarem, eu também saio dali e caminho devagar para dar tempo de não nos encontrarmos. Sem olhar para trás, deixo nosso refúgio para trás, saindo pela porta do prédio escolar e retornando ao mundo frio e sufocante que me aguardava lá fora – um mundo repleto de olhares atentos e expectativas irreais da minha família.
GustavoTem dias em que tudo parece meio em câmera lenta. Tipo hoje. O sol tá se pondo devagar lá fora, pintando o céu de laranja, e eu tô sentado na escada da varanda, com os cotovelos nos joelhos e a cabeça cheia de coisa. A casa tá cheia do barulho de sempre — risada da minha irmã, panela batendo na cozinha, meu pai cantando desafinado alguma música antiga. É tudo muito normal. Mas, ao mesmo tempo… sei lá. Nada é só normal quando você presta atenção de verdade.— Gu, olha só! — a voz da Isadora corta meus pensamentos, aguda como sempre. Ela corre na minha direção com um copo na mão, metade cheio de alguma poção maluca feita com groselha, leite e, provavelmente, sabão.— Não me dá isso. Da última vez quase vomitei — digo, fazendo careta. Ela ri como se fosse a melhor piada do mundo.— É só groselha! Tá, talvez tenha um pouquinho de pimenta…Reviro os olhos, mas sorrio. A Isa tem sete anos, mas às vezes parece que ela veio com o dobro de energia e criatividade. Meu pai diz que ela pux
CaíqueAs manhãs aqui em casa são barulhentas, bagunçadas e incrivelmente vivas. O despertador raramente é necessário, porque Isabela é sempre a primeira a pular na nossa cama, rindo e fazendo bagunça, falando um monte de histórias e pedindo panquecas. Gustavo já se acostumou com a nova rotina, agora que é o irmão mais velho, acha que tem a missão de ajudar em tudo, nos afazeres diários e cuidados com a caçula. E eu, bom, eu acordo todos os dias pensando na sorte que tive por ter escolhido ficar. Na verdade, a sorte começou quando conheci a Mayara.Agora mesmo estamos na cozinha. Mayara veste uma roupa simples e um avental florido, cabelo preso em um coque alto malfeito com alguns fios bagunçados, sorriso largo no rosto. Com o braço ágil, ela mexe a massa na tigela enquanto canta baixinho uma música infantil, dessas que ela ouviu quando Isabela pediu para assistir na televisão enquanto dançava. Isabela está sentada no seu cadeirão, balançando as pernas e batendo as mãos na bandeja, ob
MayaraA brisa da tarde entra suave pela janela da sala, balançando as cortinas com um ritmo preguiçoso. O sol espalha um dourado quente pelos cantos da casa, iluminando os brinquedos espalhados, os desenhos coloridos colados na geladeira e os diversos porta-retratos nos móveis que contam parte de nossa história.Como faço sempre que me aproximo dos registros de nossas lembranças, observo cada fotografia com um sorriso no rosto e felicidade em meu coração. Acompanho o crescimento do meu filho. O desenvolver da minha filha. Fotos com Caíque, do nosso casamento, festas, encontros com amigos e familiares, diversos momentos felizes. Aqui está o refletido o passar do tempo para nossa família. E é lindo.O som da caneca no fogo, me avisa que o meu chá está pronto. Vou até lá e me sirvo da bebida. Sento no sofá com uma xícara de chá ainda quente entre as mãos. Posso ouvir as risadas vindo do quintal. Caíque está com as crianças lá fora, brincando de pega-pega com Gustavo e a pequena Isabela,
GustavoEstou esperando no pátio da escola, chutando uma pedrinha de um lado para o outro enquanto vejo os outros pais chegarem para buscar seus filhos. Todo mundo já foi embora, e eu começo a ficar preocupado. Será que esqueceram de mim?Minha mãe e meu pai não me trouxeram para a escola. Precisaram ir no médico. Tio Dan me trouxe e falou que estava tudo bem, então achei que meus pais iam me buscar, né?Mas ninguém veio ainda. Olho para os lados quando meus últimos amigos vão embora, é quando vejo o tio Daniel vindo em minha direção, com aquele sorriso grande que ele sempre tem. Ele acena para mim, e eu corro para ele.— E aí, carinha! — ele diz, bagunçando meu cabelo.— Oi, tio! Cadê a mamãe e o papai? — pergunto, meio desconfiado.Ele se abaixa na minha frente e coloca as mãos nos meus ombros.— Tenho uma supernovidade para você! — ele diz, fazendo uma cara misteriosa.Arqueio as sobrancelhas, curioso.— O que é?— Seus pais foram para o hospital porque sua irmãzinha vai nascer!Me
CaíqueAcordo com um toque leve no meu braço e, no mesmo instante, sinto um aperto no peito. Olho para o lado e vejo Mayara sentada na beira da cama, respirando fundo.— O que foi? — pergunto, já me sentando em alerta.— Acho que… — Ela faz uma pausa e segura minha mão com força. — Acho que chegou a hora.Meu coração dispara. Não sei se estou pronto para esse momento. Na verdade, ninguém está realmente pronto para isso, né? Mas não tem escolha. É agora.— Tudo bem, tudo bem — digo, tentando manter a calma, mas sinto minha voz trêmula. — Vamos para o hospital.Levanto rapidamente e ando pela casa, confuso no que devo fazer. Começo a pegar as malas que deixamos prontas há semanas no quarto infantil que decoramos há meses.— Caíque? — Mayara me chama suavemente. Deixo tudo para trás e corro até ela. Quando me aproximo dela, segura minha mão de novo, e eu percebo que ela está mais calma do que eu. — Vai dar tudo certo, Caíque — ela sussurra, como se precisasse me tranquilizar.— Claro que
MayaraÉ impossível não sorrir ao olhar para o meu reflexo no espelho. O vestido azul-claro realça a curva da minha barriga redonda. A cerimônia de casamento da Gabi e do Daniel é hoje, e eu estou prestes a acompanhar a minha melhor amiga até o altar.Passei o dia com ela, assim como ela esteve comigo na minha vez. Vim para casa para me arrumar e conferir que Gu e Caíque estariam prontos no horário.— Mãe, você tá linda! — Gustavo comenta, entrando no quarto com o olhar curioso.— Você acha? — pergunto, ajeitando o cabelo preso em um coque elegante.— Sim! E seu vestido brilha!Solto uma risada, tocando o tecido acetinado. Gustavo está usando um terno minúsculo mais uma vez, e é a coisa mais fofa que já vi. Caíque aparece logo atrás, também de terno, com um sorriso encantador.— Prontos para o casamento? — ele pergunta, me puxando pela cintura e me dando um beijo rápido na testa.— Prontíssimos — respondo, sentindo meu coração bater mais forte ao lembrar do nosso próprio casamento, qu
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