A cidade amanheceu com um vento morno que mexia nas cortinas da pensão e empurrava o dia para fora das janelas. Isadora levantou sem pressa, sentindo um vazio bom, desses que não pedem explicações. O bairro respirava em ritmo normal, e o nome dela já não pesava sobre as esquinas. Era estranho e leve ao mesmo tempo. Na cozinha comum, o porteiro deixara uma marmita com bilhete curto — “voltei a assar pão, lembra?” — e isso bastou para que ela sorrisse. O mundo voltava a caber no gesto mínimo.
Rafael apareceu na calçada com duas passagens de trem e um plano simples: sair da cidade por algumas horas, atravessar o rio, comer sem relógio, olhar coisas que não pedem opinião. “Só nós, sem pauta”, disse, estendendo a mão. Isadora hesitou por um segundo — a hesitação antiga de quem se acostumou a pedir permissão ao medo — e então assentiu. Guardou o celular na bolsa e prometeu a si mesma deixá-lo em silêncio até a noite.
A estação parecia um lugar emprestado de outro tempo. Bancos de madeira, l