37. VERDADES FRAGMENTADAS
Naquela manhã, Deise desceu as escadas em silêncio. Seus passos eram lentos, mas sua mente corria em círculos — um turbilhão de memórias partidas, frases soltas e segredos entreabertos. Ao se aproximar da sala de estar, o aroma do café fresco invadiu suas narinas, trazendo consigo uma sensação estranha: o conforto cotidiano em meio ao caos emocional.
Lucas ainda estava à mesa, relaxado, com a postura despreocupada de quem não tem nada a esconder. Ou de quem já escondeu tudo tão bem que nem precisa mais se preocupar. Ela se sentou sem olhá-lo diretamente.
Maria apareceu com um sorriso leve e a serviu com delicadeza.
— Bom dia, Dona Deise. Dormiu bem? — perguntou com gentileza sincera.
— Bom dia, Maria. Dormi... o suficiente. — respondeu, sem muita convicção.
Mas Lucas, claro, não resistiria ao palco montado à sua frente.
— Vejo que não dormiu muito bem. Quem sabe se tivesse dormido comigo, teria tido uma noite... inesquecível.
A ironia sórdida em sua voz fez Deise erguer os olhos com f