Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV CATARINA
O fim da tarde carregava uma estranha melancolia. O céu ainda estava claro, mas algumas nuvens pesadas se formavam no horizonte, como se anunciassem que algo ruim estava prestes a acontecer.
Eu me sentei na beira da piscina, os pés balançando sobre a água azul. Olhei para o reflexo trêmulo que se desfazia a cada ondinha. Tentei me apegar às palavras da minha mãe, que tantas vezes me salvaram do desespero:
“Um problema de cada vez, minha filha. Um leão por dia.”
Fechei os olhos, respirei fundo.
Um arrepio me percorreu a espinha. A sensação de estar sendo observada. Quando abri os olhos, elas já estavam lá.
— Oi, fofinha… — a voz de Nathalia era suave, mas tinha veneno. — Acho que deixou algo cair na água.
Virei o rosto. Nathalia e Leila se aproximavam sem pressa, sorrindo com aquele ar de falsa inocência.
— Caiu? — perguntei, olhando para a superfície azul. Tudo o que vi foi meu próprio reflexo, distorcido, instável, como se a água já soubesse o que estava prestes a acontecer.
— Ainda não caiu… — Nathalia sussurrou, os lábios se curvando em deboche. — Mas vai cair.
O empurrão foi certeiro. Um golpe seco nas minhas costas. O ar sumiu do meu peito.
O mundo girou. E em questão de segundos, fui engolida pela água.
O frio me cortou como navalha. O silêncio submerso só aumentava o pânico. Abri a boca, e um grito abafado se perdeu em bolhas que subiram à superfície.
Eu não sabia nadar.
Me debati, bati braços e pernas em desespero, mas cada esforço parecia me arrastar ainda mais para baixo. As luzes acima se tornavam borradas, distantes. O medo me sufocava.
E foi ali, entre a água e o pavor, que tive uma certeza esmagadora: aquele dia poderia ser o meu fim.
POV JOSÉ EDUARDO
— Já disse, Pedro, aquela garota não me engana! — esbravejei, ainda fervendo de raiva.
— Cara, pega leve. Ela não é tão ruim assim — insistiu ele.
— Não é ruim? Aquela dissimulada sabia muito bem o que fazia.
Pedro suspirou, balançando a cabeça.
Eu ia retrucar, mas o som me cortou por dentro: um splash forte, seguido de gritos desesperados.
— A sobrinha do Nestor caiu na piscina! — exclamou uma senhora, assustada.
Meu coração disparou. Saí correndo até a área externa.
A cena me atingiu como um soco: Catarina, se debatendo na parte funda, os braços batendo em desespero, o corpo subindo e afundando como se fosse engolida pela própria água. Ao lado, Nathalia e Leila gritavam por ajuda, fingindo desespero com rostos que não enganavam ninguém.
— Eu salvo ela! — Pedro arrancou a camisa.
Mas antes que ele desse um passo, algo dentro de mim explodiu.
A água gelada me envolveu, mas nada importava. Nadei até ela com toda a força que tinha. Seus olhos arregalados se encontraram com os meus no fundo da piscina, e naquele instante tudo parou. O tempo, o barulho, até minha raiva.
Agarrei seu braço e puxei com firmeza. Catarina se grudou em mim, soluçando, tentando respirar entre os engasgos.
— P-p-por fav-vor… m-me tira d-daqui… — ela soluçava, cada palavra cortada pela falta de ar.
Levei-a até a borda, emergindo junto dela.
— Ai, que susto! — Nathalia exclamou, teatral. — Ela escorregou, né, Leila?
— Isso… só um acidente… — completou Leila, a voz falsa.
Ignorei as duas. Subi da piscina carregando Catarina em meus braços. Ela tremia, encharcada, os lábios roxos. Seus dedos ainda se agarravam em mim como se o perigo não tivesse acabado.
E ali, contra a minha vontade, algo nasceu dentro de mim. O desejo de protegê-la.
— Você está a salvo agora — murmurei, acariciando de leve seu rosto molhado.
Mas antes que pudesse responder, Catarina desabou. O corpo relaxou, mole, inconsciente nos meus braços.
Meu coração gelou.
E naquele instante eu soube: não era só um acidente. Algo muito maior, muito mais sombrio, estava se armando contra ela.







