POV NATHALIA
O carro parecia uma gaiola sobre rodas.
Meus dedos se agarravam ao volante com tanta força que as juntas embranqueceram. O coração, descompassado, batia contra o peito como se quisesse saltar para fora, um pássaro em pânico que tivesse descoberto tarde demais a janela aberta.
As luzes da estrada avançavam lentamente, zombando da minha pressa. Cada farol que se aproximava e desaparecia me lembrava do tempo que eu não tinha. O mostrador do painel, cruel, insistia em números que não cooperavam. A cada semáforo amarelo, eu já estava rezando; a cada caminhão pesado na faixa da esquerda, mordia o lábio até sentir o gosto de metal.
E se for tarde demais?
A imagem da placa VENDE-SE ainda ardia na minha memória como um ferro em brasa. A varanda vazia, as cadeiras cobertas com lençóis que pareciam fantasmas, o silêncio ofendido do casebre. Eu não tinha conseguido falar com ele. Não tinha conseguido segurar o homem que sempre esteve entre as minhas costelas, mesmo quando eu negava.