POV GUSTAVO
Desde que o advogado bateu à minha porta trazendo aqueles papéis, minha vida deixou de ser a mesma.
As cifras que vi no envelope não eram apenas números. Eram choques elétricos atravessando meu corpo, queimando memórias de suor e calos que tinham me moldado desde menino.
Vó Dorinha.
Aquela mulher que vivia com vestidos velhos, que amarrava o lenço na cabeça como se fosse coroa, que reclamava da conta de luz mesmo quando mal usava lâmpada. Ela — justo ela — era rica. Rica de verdade.
E nunca contou.
Passei noites em claro tentando entender. Será que ela sabia? Será que guardou tudo em silêncio de propósito? Ou será que preferiu viver com simplicidade pra que eu aprendesse a ser forte, a não me deixar amolecer pelo conforto?
Talvez nunca vá saber.
Agora, tudo era meu. O advogado garantiu: não havia contestação. Eu, Gustavo, o peão que lavrava a terra e carregava feno nos ombros, era dono de uma fortuna que poderia comprar a própria fazenda onde fui humilhado tantas vezes.
Ma