Capítulo 29 — Vozes e Bilhetes (Parte II: O Mapa Invisível)
O silêncio, depois da saída dos homens, tinha textura. Não era ausência de som — era uma substância viva, espessa, que grudava na pele e entrava pelo ouvido como poeira. O ar estava saturado do cheiro de verniz e ferrugem. O porto lá fora continuava respirando, mas lá dentro, o tempo parecia de outra espécie.
Fiquei um tempo parado, tentando entender se o que ouvira era real ou se já fazia parte de uma alucinação do medo. Henestrosa, Saboya, Fundación, Santa Clara, Servicios… nomes demais, fios demais para um homem só. E, no meio, Helena — a mulher que parecia costurar as sombras com as próprias mãos.
Peguei o caderno de capa preta e reli o que havia anotado. As palavras tremiam ligeiramente. Talvez fosse minha mão, talvez o ar do galpão, que vibrava em alguma frequência secreta.
“Henestrosa paga. Saboya cobra. Plateia é a palavra.”
Fechei o caderno. Olhei para a caixa mais uma vez.
Na penumbra, parecia respirar.
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O celular