Capítulo 30 — Vento no Terraço
Saí do galpão como quem sai de dentro de uma caixa e não de um prédio. O ar do porto pareceu mais leve do que era de manhã, mas eu sabia que não era o ar — era o fato de ainda estar inteiro. A porta metálica bateu atrás de mim com um som curto, sem eco, como se o galpão tivesse engolido a própria existência para não deixar rastro.
“Às 19h, no terraço. Vento.”
O bilhete que a mulher de vestido preto me passou na escada era curto demais para tanto significado. Guardei no bolso junto do lenço vermelho de Helena e caminhei como quem não tem pressa, porque pressa em cais chama olhar.
Fiz o trajeto até a saída do porto olhando vidros, não pessoas. Nos reflexos dos caminhões, dos contêineres, da janela do posto da aduana, vi duas coisas: eu, com a expressão mais alerta do que gostaria, e um homem de terno claro que sempre parecia dez passos atrás. Não era dos estivadores. Não era da autoridade. Não era Saboya. Era o tipo de homem que só existe quando há