Capítulo 28 — Sombras no Galpão (Parte I: O Eco da Madeira)
A porta estreita cedeu um palmo, e o cheiro de madeira e ferro me recebeu como um animal antigo. Entrei. A folha voltou para o lugar com um suspiro metálico. Por um segundo, o mundo de fora — sirenes, guindastes, vozes — virou ruído abafado, como se alguém tivesse fechado uma torneira de som.
— Pare aí. — A voz feminina veio baixa, quase colada ao ouvido, de algum ponto à esquerda. — Sem perguntas. Dois passos para trás.
Obedeci sem negociar. Uma luz oblíqua se acendeu, dessas de oficina, lançando um círculo pálido no chão irregular. A lâmpada pendia por um fio suspenso em gancho de aço. Suficiente para recortar volumes e esconder rostos.
— Você foi visto no mirante e na lateral, jornalista — disse a voz, agora à frente. — Se andasse mais um metro pela doca, nascia outro vídeo.
— Lucía? — arrisquei.
Um silêncio que parecia sorriso.
— Portas — ela devolveu, enigmática. — Aprenda a diferenciar as que se abrem porque você