Capítulo 27 — Dentro da Caixa
O cheiro mudou primeiro.
Não era mais o cheiro do cais — sal, peixe, diesel.
Lá dentro era madeira, papel e ferro guardado. Cheiro de lugar onde as coisas ficaram tempo demais esperando ser vistas.
A porta fechou-se atrás dele sem barulho de tranca. Rafael virou devagar. A mulher que falara com ele ainda não tinha aparecido. A luz vinha de cima, de janelas altas, e fazia faixas no chão, como se o galpão fosse uma igreja industrial.
— Não se mexa muito — a voz voltou, agora mais perto. — Aqui dentro tudo tem dono.
Ela surgiu de trás de uma pilha de caixotes menores. Lucía. O cabelo preso, vestido escuro simples, o mesmo olhar de quem sabe mais do que fala.
— Sabia que era você — ele disse, aliviado e irritado ao mesmo tempo.
— E quase não foi — ela respondeu. — Estão todos de olho hoje. Até os que nunca vêm ao porto.
— A caixa…
— Já está vindo pra cá. — Ela apontou para o fundo. — Mas você não vai abrir.
— Então pra que eu vim?
Lucía o encarou c