Capítulo 23 — O Porto das Sombras
O porto nunca dorme. Guindastes rangem como esqueletos de ferro; refletores recortam contêineres em muralhas; o cheiro de sal mistura diesel e pressa. Ali se decidem fortunas — e quedas.
Chegamos cedo demais — método de Helena. Ela caminhava como quem cruza um salão de gala sobre concreto irregular. A cada passo, operários suspendiam o movimento por um segundo; executivos fingiam não olhar. A noite, prestes a virar manhã, abriu passagem.
— Aqui é onde os segredos viajam — disse, sem me olhar. — Uns vão em contêineres. Outros em silêncios.
A sirene cortou o ar. Entre sombreados, Saboya. Não com capangas de filme, mas com homens de terno: empresários, políticos, advogados que conhecem o preço do vento. Em vez de provas falsas, ele trouxe plateia do próprio jogo.
— Señora Padilla. Señor Duarte — a voz polida. — Aqui não há corredores escuros nem câmeras escondidas. Aqui só existe a verdade do dinheiro.
Helena sorriu como quem ouve criança fala