Capítulo 24 — A Caixa e o Desejo
O vento do mar soprava frio, mas Rafael mal percebia. O corpo ainda queimava do beijo que Helena lhe dera no porto.
Não fora apenas desejo — fora domínio. Um beijo que tinha peso de decreto.
O gosto dela ainda vibrava em sua boca, misturado ao sal do ar e à sensação inquietante de ter tocado algo que o mundo inteiro temia compreender.
Helena caminhava alguns passos à frente. O vestido ondulava com a brisa noturna, e o rubi em seu peito ardia com luz própria. A cada passo, Rafael sentia que não seguia uma mulher, mas uma lenda — uma daquelas que, séculos depois, os homens ainda tentam traduzir em versos e fracassam.
— Você está em silêncio — disse ela sem se virar.
A voz, cortante e melódica, atravessou o ar frio.
— Temo dizer algo errado — ele respondeu, sincero.
Helena parou. Girou lentamente, o olhar fixo nos olhos dele. A luz do cais se refletia em seus cabelos, e o perfume — florido e mineral — parecia desmentir o mundo ao redor.
Deu dois passos e