Capítulo 19 — Puerta Norte, 00:30
A noite tinha um brilho metálico quando saí do salão principal. O Palacio de las Dueñas seguia em festa — riso contido, taças cantando, música que finge não ouvir segredos —, mas os corredores ao norte ficavam mais frios a cada arco. O bilhete não dizia “venha sozinho”, só “Puerta Norte, 00:30”. Subtexto é idioma de gente que manda: se eu levasse reforço, a cena perderia o propósito.
Parei num pátio estreito. A cal comia a luz das luminárias e devolvia sombras limpas. 00:28. Meti a mão por dentro do casaco e toquei o caderno sem nome: um coração extra no peito. Pensei em Helena. Pensei no rubi como um pequeno planeta. Pensei em não pensar.
— Chegou cedo — disse a voz que corta corredor como navalha embrulhada em cetim.
Virei. Helena, sozinha. Vestido marfim segurando a noite por dentro, o cabelo preso baixo, um brilho no canto do olho como se guardasse um segredo ali. Aproximou-se como quem atravessa um rio calmo sobre pedras invisíveis.
— Eu diss