Lorena
Eu nunca pensei que amar alguém poderia me obrigar a fugir. Não fugir por covardia. Nem por culpa. Mas fugir porque na favela, amar é perigoso. Amar é expor o peito no meio do tiroteio. Amar, aqui, é desafiar morte, facção, sangue e destino. É pedir pra viver — e isso, às vezes, é mais ousado do que matar.
Acordei com o peito estourando. Não era um pesadelo. Era realidade me puxando pelos cabelos. O dia da fuga tinha chegado.
Kaíque já tava de pé, no canto do quarto, encostado na parede igual à estátua de guerra. Camisa colada no corpo, suor escorrendo nas têmporas. Mochila caída aos pés. Arma no cós da calça. Um homem em silêncio... pronto pra morrer, se fosse preciso.
Mas eu sabia.
Ele não queria guerra. Ele queria paz. Pra mim. Pro nosso filho. Pra nós três, que éramos tudo e nada nesse mundo do avesso.
— Vamo agora, amor. — a voz dele veio grave, firme. — Já falei com Zé da Laje. Ele tá esperando. Mas tem que ser agora.
Assenti com a cabeça, engolindo o medo como quem engol