Lorena
A estrada se estendia como uma ferida aberta, e cada quilômetro que a gente deixava pra trás era mais um pedaço de vida que não voltava. O silêncio dentro do carro era sufocante. Não aquele silêncio leve, de paz. Era o silêncio tenso de quem sabe que ainda não tá salvo. De quem ouve a morte no retrovisor.
Kaíque dirigia com uma mão só, a outra pressionando o ombro encharcado de sangue já seco. A camisa colada na pele, o rosto pálido, os olhos fixos na pista. O cheiro de ferro impregnava o carro, misturado com o suor do medo e da adrenalina que ainda grudava na pele da gente. Eu queria gritar. Chorar. Rasgar o mundo no meio.
Mas não podia.
Porque se eu desmoronasse ali, ele vinha junto. E se a gente caísse, não levantava mais.
A gente não tinha pra onde ir. O barraco da Dona Lurdes já era. A favela, um campo minado onde o tráfico e a milícia trocavam tiro como quem troca "bom dia". Lá, não existia mais espaço pra nós. Nem pra erro. Nem pra sonho.
Fomos rumo à serra. A estrada er