Kaíque
Tem hora que a vida cobra. Mas não cobra com boleto. Cobra com sangue. Com alma. Com passado jogado na cara como tapa. Hoje, irmão… hoje eu acordei sabendo que a conta ia bater. E bateu. Bateu no olhar da Lorena, ali, calada, segurando o medo no peito e o amor nos olhos. Aquela casa pequena, que por uns dias foi abrigo, hoje parecia um túmulo. E o silêncio, esse maldito silêncio… gritava mais alto que tiro.
Eu tentei. Tentei virar homem de verdade. Largar o crime, largar a vida torta, largar o nome sujo que ecoava pelas vielas. Troquei a Glock pela chave de grifo, deixei a biqueira pra lavar peça de moto, me sujei de graxa ao invés de sangue. Mas aqui… aqui onde a gente nasce marcado, não adianta querer recomeçar. Porque o passado sempre sabe teu endereço.
Jura.
O nome bateu na minha mente como facada. Antigamente era meu irmão. Hoje, meu caçador.
E o pior: a mulher que carrega meu filho… é filha do desgraçado que matou o irmão dele. Tu entende isso? O destino me colocou de joe