Kaíque
Quando ela me disse que tava grávida, meu chão não tremeu. Ele afundou. E eu fui junto, com tudo.
Mas não foi de medo, não.
Foi de verdade.
Porque ali, naquela hora, tudo que eu fui nessa vida — bandido, chefe, cão de guerra, sobrevivente do inferno — virou pó perto da ideia de ser pai. De botar no mundo uma parte de mim. De ter alguém inocente pra carregar o peso do meu sangue, sem nunca conhecer as dores que me formaram.
E eu, que sempre vivi no fio da navalha, percebi que agora tinha motivo pra querer durar mais que o próximo mês.
Só que favela não perdoa um sonho bonito.
Aqui, esperança é tipo vela acesa em ventania — qualquer sopro apaga.
Acordei antes do sol. Lorena dormia enrolada no lençol, com a mão na barriga como se já protegesse nosso filho com o corpo. Linda. Linda demais pra esse mundo quebrado. Linda até pra mim, que achava que beleza era só no grito da vitória depois do tiro que não veio.
Beijei a testa dela como quem assina um pacto silencioso. E saí.
Na oficin