Dez Anos Depois
Favela da Rocinha – Rio de Janeiro
Sol rachando o cimento, céu azulzão, gritaria de criança ecoando como música da vida
— Mããããe, ele me bateu! — berrou Luca, o menor, correndo com o pé descalço e o beiço tremendo, suor escorrendo na testa e uma folhinha grudada no cabelo.
— Mentira! Foi sem querer! — respondeu Miguel, com aquela cara safada que só os irmão mais velhos sabem fazer quando tão encobrindo travessura.
Lorena saiu na varanda da casa reformada — agora com reboco certo, cerâmica no chão e grade nova pintada de branco — segurando uma toalha e um olhar que sabia o que era viver o inferno e ainda sorrir.
— Se quebrar mais um vaso da minha avó, vão catar cocô de cachorro lá na laje do seu Jorge o mês inteiro, ouviram?!
Os dois pararam na hora. Se entreolharam. E saíram correndo de novo, rindo alto, a chinela batendo no chão quente, subindo poeira. Futebol na laje era religião. E naquele morro, criança ainda podia ser criança.
Kaíque chegou logo atrás. Chinelo arr