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Capítulo 7 – Olhos que Leem Demais

O relógio marcava exatamente 10h12 quando Miguel entrou novamente no salão principal da ONG. O mesmo cheiro de tinta fresca, madeira encerada e café adoçado demais o envolveu. Mas agora, tudo parecia ter outra cor. Outra temperatura. Outro ritmo.

Talvez porque ela estivesse ali.

Anyellen.

No canto do salão, com uma blusa branca simples e os cabelos presos de forma displicente, ela ouvia um dos jovens com atenção. A postura era relaxada, mas os olhos... os olhos eram como lâminas sem corte. Afiados, mas silenciosos. E ao pousarem nele, Miguel teve a impressão nítida de que estava nu, não no corpo, mas na alma.

Ela não olhava como quem via. Olhava como quem lia.

E ele não sabia o que incomodava mais: o fato de estar sendo lido… ou o fato de querer que ela lesse mais.

— Decidiu voltar?

A voz dela o alcançou com um tom que mesclava ironia e curiosidade.

— Decidi.

Ele respondeu, ajeitando o blazer.

— Digamos que o ambiente me intrigou.

— É um lugar feito para quem sente.

— E se eu não for alguém que sente?

Anyellen sorriu de leve, inclinando a cabeça como quem enxerga além da provocação.

— Então por que voltou, Miguel?

O nome dele, saindo da boca dela, soava como uma carícia com garras.

— Talvez para entender por que você me incomoda tanto.

Ele deu um passo em direção a ela.

— Ou talvez só para provar que eu posso vencer.

— Vencer o quê?

Ela rebateu com suavidade perigosa.

— A mim?

— A si mesmo.

O silêncio que se seguiu foi mais íntimo do que qualquer toque. Os olhos dela seguravam os dele com força. E Miguel se sentiu exposto de um jeito que nenhuma amante, nenhuma repórter, nenhum sócio jamais o havia deixado.

— E você sempre usa esse terno para esconder quem é?

Anyellen perguntou.

— E você sempre usa essa boca para despir os outros?

Ele devolveu, baixo, com a voz carregada de algo que nem ele sabia nomear.

Ela deu um passo, ficando a poucos centímetros dele. Miguel podia sentir o perfume suave que ela usava; algo com lavanda e algo mais... algo que era só dela.

— Eu uso essa boca pra dizer o que ninguém tem coragem.

Sussurrou.

— E você… usa esse terno como armadura. Mas eu vejo através.

— E o que você vê?

A pergunta escapou, mais rouca do que ele queria demonstrar.

— Um homem em guerra.

Miguel se inclinou, o rosto quase tocando o dela.

— Cuidado com quem você decide ler, Anyellen. Alguns livros queimam.

— E alguns homens se incendeiam com o que negam. Ela respondeu, sem desviar os olhos.

— O que você sente, Miguel, não é raiva. É medo.

— De quê?

— De mim.

A respiração dele falhou.

A eletricidade que nasceu naquele centímetro entre os dois era quase palpável. Miguel sentiu a garganta seca, os dedos formigarem. Estava acostumado a comandar salas, mercados, mulheres… Mas Anyellen era o tipo de mulher que não se conquistava com ordens.

Ela precisava ser tocada com respeito.

E provocada com intensidade.

— Eu não costumo ter medo, Anyellen.

— Mentira.

A resposta dela veio com suavidade cruel.

— Você só não costuma sentir. Mas comigo, você sente.

Ele a segurou pelo braço com delicadeza, mas firmeza suficiente para ser notado.

— Você sabe o que está fazendo?

— Sempre.

— Isso é um jogo?

— Não. Isso é o que acontece quando um homem que não sabe amar encontra uma mulher que se recusa a ser dominada.

Miguel soltou o braço dela devagar, como se o toque tivesse queimado.

Mas seus olhos… os olhos seguiam presos aos dela como se ali estivesse a única verdade que ele buscava.

— Se eu quiser você.

Disse ele, baixo, rouco

— Vai ser do meu jeito.

— E se eu quiser você.

Ela devolveu

— vai ser com verdade.

E naquele momento, algo em Miguel vacilou.

Não era o desejo.

Não era a raiva.

Era o reconhecimento.

Porque ela o via. Sem maquiagem. Sem escudo. Sem armadura.

E o sorriso breve que ela deu, ao virar de costas e se afastar, foi a sentença silenciosa do que viria a seguir:

Ele estava perdido.

E pior.

Queria continuar se perdendo nela.

O silêncio entre eles era mais eloquente do que qualquer discurso. Anyellen mantinha os braços cruzados sobre o peito, não como defesa, mas como quem já sabia que era observada e gostava de ser enigma. Miguel, por outro lado, parecia menos um magnata e mais um homem tentando não se perder no mistério de uma mulher que via demais — e se escondia de menos.

— Esse olhar seu.

Ele murmurou, arrastando os olhos por ela, como quem queria decifrar cada parte do corpo que o terno dela não escondia totalmente, me dá a estranha sensação de que estou... exposto.

Anyellen ergueu uma sobrancelha, os lábios curvando-se num quase sorriso.

— Que bom. É assim que os meninos aprendem a respeitar. Quando descobrem que não conseguem controlar tudo.

— Eu nunca fui bom em ser controlado. — Ele se aproximou, apenas um passo, mas suficiente para tornar o ar entre eles carregado de algo não dito.

— E eu nunca tive paciência com homens que confundem força com medo de sentir.

A resposta veio afiada. Mas era a forma como ela disse aquilo, sem raiva, sem provocação, que o desarmava. Como se apenas estivesse... constatando. Como quem lê um livro em voz alta para quem nunca teve coragem de abrir a primeira página.

Miguel quis rir, mas o que saiu foi um som abafado, quase grave, quase rouco. Aquela mulher o tirava do eixo. E ele gostava disso.

— Você sempre foi assim?

Perguntou.

— Uma tempestade de lucidez num mundo de gente rasa?

Ela deu um passo, agora mais próxima. A ponta dos sapatos quase roçou os dele. E quando falou, sua voz era baixa, como se confessasse um segredo apenas ao destino.

— Eu aprendi cedo que se você não for o seu próprio abrigo, ninguém será. Mas isso não me impediu de sentir. Nem de querer ser sentida por inteiro.

Miguel a encarou, e algo em seu peito se apertou. Não era desejo.

Isso ele já reconhecia de longe. Era algo mais perigoso. Algo que vinha das partes dele que preferia manter trancadas.

— O que você vê quando olha pra mim, Anyellen?

Ela não respondeu de imediato. Olhou nos olhos dele como quem atravessava camadas, memórias, muralhas. Como quem chegava onde ninguém ousava tocar.

— Um homem que acha que sentir é fraqueza. Que aprendeu a se armar de luxo, contratos e distâncias. Mas que, no fundo...

Ela se aproximou mais, a voz agora um sussurro que escorria quente até o centro do estômago dele , só queria que alguém o olhasse como homem. E não como império.

O impacto daquelas palavras foi imediato. Ele não respondeu. Não conseguiu.

Só soube que, se não a beijasse naquele instante, enlouqueceria.

Mas Anyellen, como sempre, recuou primeiro. Um passo. Apenas um.

— Eu não sou o tipo de mulher que se vende, Miguel. E muito menos o tipo que se dobra.

— E eu não sou o tipo de homem que se rende. Mas com você...

Ela não esperou o fim da frase.

— Comigo, você vai ter que aprender que algumas guerras não são vencidas. São sentidas. Aqui !

Apontou o próprio peito, e aqui.

Tocou de leve a cabeça dele com o indicador.

E então, com a mesma firmeza de quem sabe o efeito que causa, virou as costas e saiu. Sem pressa. Sem se despir mais do que já havia feito com as palavras.

Miguel ficou ali. O coração batendo como se quisesse sair do peito. E pela primeira vez, não sabia se queria vencê-la...

Ou se, finalmente, estava pronto para se deixar ser vencido.

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