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Capítulo 6 – O Sorriso Que o Desarma

A manhã estava dourada, suave como um sussurro de outono. O pátio da ONG vibrava com vozes juvenis e pequenos passos que corriam de um lado para o outro como se o mundo coubesse naquele espaço. Miguel estava ali, mas era como se não pertencesse à cena. Observava de longe, os braços cruzados, tentando esconder o desconforto que sentia por dentro. Ele era um predador entre colibris. E, no entanto, algo nele começava a desarmar.

— Tio, segura!

Gritou Matheuzinho, jogando uma bola de pano na direção de Miguel, que, surpreendentemente, a pegou.

Os olhares se voltaram. As crianças riram. E então ele a viu.

Anyellen. De pé, na varanda, com uma prancheta na mão e o cabelo preso de um jeito descuidado e sensual. Ela observava a cena. E então… sorriu.

Não foi um sorriso largo. Foi breve. Um segundo, talvez dois. Mas foi o suficiente para derrubar qualquer defesa que Miguel ainda mantinha.

Ele ficou imóvel, com a bola na mão e o peito apertado por algo que não soube nomear. Aquele sorriso não tinha sido debochado. Tampouco irônico. Era quase... orgânico. Como se, por um instante, ela o tivesse enxergado sem a couraça. E isso o desconcertou mais do que qualquer rejeição.

Ela desceu os degraus lentamente, até ficar a poucos metros dele.

— Você lida bem com crianças.

Disse ela, sem preâmbulo.

— Não lido com ninguém. Só segurei a bola. Respondeu ele, devolvendo o olhar com firmeza.

— O jeito que você segurou, como se isso tivesse algum valor... diz muito.

— Diz o quê?

— Que talvez você não seja só uma fachada cara. Mas isso não muda nada, senhor Fontes.

— “Senhor Fontes” de novo?

— Não estou aqui para te agradar.

— Mas sabe que provoca.

Miguel avançou um passo, a voz baixa, o olhar quente.

— Provoco quem se deixa provocar.

Anyellen manteve a cabeça erguida, mas havia algo nos olhos dela... algo entre tensão e desafio.

— Então admita: você me observa tanto quanto eu te observo.

— A diferença é que eu sei por quê estou olhando.

— E por quê?

— Porque estou tentando entender o inimigo.

— Eu não sou seu inimigo, Anyellen.

— Então o que é?

Ele se aproximou mais. Um passo só. Intencional. Masculino. Dominante sem ser agressivo.

— Uma obsessão em construção. Murmurou.

O silêncio entre eles pegava fogo. E se alguém passasse por ali naquele momento, sentiria a eletricidade se condensando em algo prestes a explodir.

Anyellen soltou um meio sorriso. Diferente do primeiro. Esse vinha carregado de algo mais denso.

— Matheuzinho está te esperando pra jogar. Desviou, recuando.

— E você, vai fugir sempre que eu me aproximar?

— Não fujo de homem nenhum. Só escolho onde me deixar tocar.

E saiu, sem pressa, com a prancheta contra o peito.

Miguel fechou os olhos por um instante, inspirando profundamente. Pela primeira vez em anos, ele sentia algo que não controlava. Algo que nascia entre os dedos e subia pela espinha. E tinha nome.

Anyellen.

E ele ainda faria aquele sorriso se curvar para ele.

— Está com medo de parecer humano, Miguel Fontes?

A voz de Anyellen ecoou próxima demais, carregada de um deboche doce, que mais parecia um convite.

Ele abriu os olhos devagar e encontrou o olhar dela. Aqueles olhos escuros, vivos, que desnudavam mais do que qualquer mão ousaria.

— O que te faz pensar que sou menos humano do que você? Devolveu, a voz grave, mais baixa do que o necessário.

— Talvez o fato de agir como uma máquina programada para dominar o mundo.

Ela respondeu, se inclinando de leve, o sorriso torto ainda no rosto.

— Mas sabe o que me intriga?

— Diga!

Ele murmurou, dando um passo à frente. O calor que o corpo dela exalava o envolveu.

— Você ainda não percebeu... que já perdeu a guerra.

— Eu nunca perco.

Ele afirmou, firme, o olhar preso à boca dela.

— Já perdeu quando decidiu vir até aqui. Quando tocou o Matheuzinho com as próprias mãos. Quando me olhou daquele jeito.

Ela respondeu, sem vacilar.

Miguel deu mais um passo, encurtando a distância entre eles até que os corpos quase se tocassem. O coração dele batia alto. Forte. Ruidoso como uma sirene. Ela era perigo, desejo e resistência em forma de mulher.

— E que jeito foi esse, Anyellen?

— Como se quisesse me engolir inteira.

Ela sussurrou, os olhos brilhando.

Miguel sorriu de lado.

— Não nego.

O ar entre eles parecia elétrico. Qualquer palavra a mais faria tudo pegar fogo. E era isso que ela queria? Provocar? Acender nele o que nunca soube nomear?

— Mas eu não sou do tipo que se rende a olhos bonitos, senhor Fontes.

Disse, firme.

— E muito menos a homens que pensam que um sorriso basta pra abrir pernas.

Ele não se moveu. Apenas encarou.

— Não vim atrás das suas pernas, Anyellen.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Não?

— Vim atrás do que você esconde quando sorri. Da mulher que tenta parecer inabalável, mas que treme quando vê alguém tocando uma criança com cuidado.

Ela o encarou por longos segundos. Depois deu um passo para trás, o arrepio visível no braço.

— Tome cuidado, Miguel...

Murmurou.

— Algumas mulheres são como vidro: você não quebra, você se corta.

Ele soltou uma risada baixa.

— Alguns homens são como fogo, Anyellen. Não precisam tocar para queimar.

A voz de Miguel saiu baixa, mas grave como um trovão sussurrado no escuro. Ela parou. Um segundo apenas. O suficiente para ele perceber que a frase a atingira.

Ela não se virou. Mas ele viu seus ombros oscilar, como se respirasse mais fundo do que queria. O vestido leve colava nas curvas dela com a brisa da janela entreaberta. E quando ela deu o próximo passo, foi como se dançasse. Como se provocasse sem intenção. Ou com toda a intenção do mundo.

Miguel se obrigou a ficar parado.

Mas por dentro…

Por dentro, a alma dele andava atrás dela.

Anyellen caminhou em direção à sala das oficinas como se não tivesse ouvido. Mas cada passo era uma resposta muda. Seus quadris descreviam um compasso preciso; perigoso e desarmado, como se cada movimento dissesse:

"Você quer o controle, Miguel? Então me siga. Mas aqui… não manda mais em nada."

Ele não a seguiu. Não ainda.

Levou as mãos aos bolsos do paletó, como se precisasse prender os dedos que ardiam de vontade de tocá-la. Depois, lançou o olhar para o alto, como um homem que buscava no teto uma oração. Não achou.

— Esse sorriso vai me tirar noites…

Murmurou.

— Mas a boca… a boca eu ainda vou decorar. Palavra por palavra. Gesto por gesto.

E, pela primeira vez, Miguel Fontes não estava falando de contratos.

Estava falando de vício.

De adoração.

De desejo que não se resume à carne, mas que começa nela, se perde nela, e volta com mais força ainda.

Ele se virou devagar, como quem teme que o encantamento desapareça se for rápido demais. Mas algo nele tinha mudado. Algo que não voltaria a ser o mesmo.

Aquela mulher não era só um desafio.

Era um chamado.

E, mesmo que ele tentasse resistir, mesmo que a mente gritasse estratégia, o corpo dele, os olhos dele, a pele dele… já tinham escolhido.

Miguel olhou mais uma vez na direção em que ela desapareceu e, com um meio sorriso nos lábios, confessou em voz baixa:

— A próxima reunião… vai ser entre seus olhos e os meus. E você vai perder. Porque eu já tô perdendo há dias.

E perdeu mesmo. O juízo. A blindagem. A guerra.

Tudo para uma mulher que nem sequer o havia tocado. Mas que, mesmo assim, já queimava no centro da sua vida.

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