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Capítulo 8 – Uma Proposta que Queima

O som dos saltos de Anyellen ecoava pelos corredores da ONG como uma melodia firme e indomável. Miguel já estava à sua espera. De pé, com as mãos no bolso do paletó cinza escuro impecável, encarava a parede pintada com traços vivos de tinta; o mural feito pelos adolescentes, com frases de esperança.

Esperança. Uma palavra que ele tinha aprendido a desprezar.

Mas naquele lugar, e diante daquela mulher, ela parecia carregar outro significado. Um que Miguel ainda não conseguia nomear.

Ela entrou na sala de reuniões sem pedir licença. Não precisava. A sala era dela. O terreno era dela. Aquilo tudo, por mais simples que fosse, representava um império que nem ele conseguia tocar. Ainda.

— Mandou me chamar?

Ela perguntou, cruzando os braços.

Ele se virou lentamente. Os olhos, negros como promessas não feitas, repousaram sobre ela com intensidade crua.

— Sim. Achei que merecíamos uma conversa sem intermediários.

Ele se aproximou, puxando uma cadeira para ela.

Anyellen ignorou o gesto. Continuou em pé.

— Fale logo, Miguel Fontes. Tenho adolescentes esperando por mim.

Ele sorriu. Um sorriso enviesado, cheio de segundas intenções. Aquilo o excitava mais do que devia.

— Sempre tão direta.

— Sempre tão arrogante.

Ela devolveu.

Miguel estendeu uma pasta sobre a mesa. Dentro, documentos. Propostas. Ofertas com cifras que fariam qualquer investidor implorar por um aperto de mão.

— O triplo do valor. Assinamos agora. Transferência em vinte e quatro horas.

Ela abriu a pasta devagar, os olhos escuros percorrendo os papéis como quem espreita uma armadilha. Então fechou, com a mesma calma.

Silêncio.

Um silêncio que queimava.

Ele esperava surpresa. Talvez indignação. Mas Anyellen só o olhou com uma calma cortante.

— Você acha que tudo tem um preço, não é?

— Tudo tem. Alguns são mais altos, outros mais baixos. Mas tudo, ele se aproximou dela, tudo pode ser comprado, se você tiver coragem de pagar o suficiente.

Ela riu. Um riso curto, seco. Quase debochado.

— Então vou te ensinar algo, senhor Fontes. Há coisas que não têm valor de mercado. Porque foram compradas com outra moeda. Com dor. Com luto. Com amor.

Miguel se irritou. Não com ela. Com a verdade. Com o fato de que, pela primeira vez, alguém o fazia questionar o que ele acreditava inquestionável.

— Você não está sendo racional. Isso é um negócio. Nada mais.

Anyellen deu um passo à frente. Estavam perto agora. Muito perto.

— Esse lugar é meu corpo. É meu sangue. Esses muros sustentam histórias que ninguém quis ouvir. E você acha que pode apagar isso com uma transferência bancária?

Os olhos de Miguel baixaram, por um instante, para a boca dela. A raiva fazia seus lábios tremerem. E, mesmo assim, ele quis beijá-la.

Ela percebeu. A tensão mudou de cor.

— Se está tentando me comprar...

Ela sussurrou.

— Está mirando no lugar errado.

Ele inclinou o rosto. A respiração dele tocou a dela. Quase.

— Talvez eu queira descobrir onde é o lugar certo.

O ar entre eles parecia mais quente. O desejo era um intruso descarado, tomando espaço entre os argumentos.

— Você vai se queimar.

Ela murmurou, a voz mais rouca do que pretendia.

— Às vezes... vale o risco.

E então ela recuou. Um passo só. Mas suficiente para erguer o escudo novamente.

— Proposta recusada.

Disse, sem olhar para trás.

Miguel ficou ali. Sozinho com seus papéis, sua arrogância... e uma ereção teimosa que não combinava com a derrota.

Ela tinha dito não. Mas seu corpo inteiro havia dito algo bem diferente.

E ele pretendia ouvir aquele sim.

Nem que precisasse se despir primeiro da única coisa que sempre usou como armadura: o controle.

...

Miguel entrou na pequena sala dos fundos como quem invade território inimigo com flores na mão. Tinha um copo de café recém-passado e o olhar frio tentando se disfarçar de casualidade. Mas era impossível apagar o que vibrava dentro dele. Era como se cada passo em direção a ela acendesse algo que nem o poder, nem a razão conseguiam controlar.

Anyellen estava sentada à mesa da copa da ONG. O cabelo preso de qualquer jeito, a blusa simples, a calça jeans com manchas de tinta. Linda como uma contradição. Linda como o tipo de mulher que não deveria estar ali, e ainda assim, parecia pertencer mais àquele lugar do que ele jamais pertenceria a qualquer espaço que tentasse comprar.

Ela o olhou quando ele se aproximou. Sem sorriso. Sem surpresa. Apenas aquela serenidade que o desarmava como se conhecesse todas as falhas dele antes mesmo de vê-lo.

— Café?

Ele estendeu a mão com o copo, a voz baixa, quase cortês.

— Envenenado ou só adoçado demais?

Ela respondeu, sem mexer um músculo do rosto.

— Apenas quente.

Ele disse, se permitindo o mínimo de sorriso.

— Como tudo entre nós.

Anyellen pegou o copo, mas não bebeu. Só observou. Ele não sabia dizer se era desafio ou estudo. Mas aqueles olhos o liam como se soubessem de coisas que ele mesmo ignorava sobre si.

— Veio comprar mais alguma coisa hoje?

Ela perguntou, encostando o cotovelo na mesa, a expressão firme.

— Vim entender o que exatamente me impede de conseguir o que quero.

Respondeu, se sentando em frente a ela.

— E a resposta, aparentemente, é você.

— Que pena!

Ela rebateu, sarcástica.

— Isso não está à venda.

Ele se inclinou, os dedos roçando de leve a madeira da mesa entre eles. O calor que ele sentia no corpo inteiro parecia vir só da presença dela.

— Você sente isso, Anyellen. Pode negar com palavras, mas não com o olhar.

Ela arqueou a sobrancelha.

— O que eu sinto ou deixo de sentir não muda o que sou. E eu não sou alguém que se vende. Nem por desejo. Nem por dinheiro.

O peito dele apertou. Ela o enfrentava com firmeza, mas havia algo ali... um tremor nas mãos, uma oscilação no olhar. Miguel não era só CEO. Era estrategista. Sabia quando alguém lutava contra algo maior que a lógica.

— Eu ofereci o triplo.

Disse, a voz mais rouca.

— Não pelo terreno. Por sua atenção. Pela chance de entender o que a faz tão convicta.

— Você não quer entender nada, Miguel. Quer controlar. Quer vencer. Eu conheço homens como você.

— Você não me conhece.

Ele sussurrou, inclinado, os olhos presos nos dela.

— Mas vai conhecer. Porque eu não vou parar.

Anyellen se levantou. Olhou para ele como se decidisse o destino de ambos num único suspiro.

— E eu não vou me render.

Ela saiu. Sem olhar para trás. O cheiro de café ficou no ar. O calor da presença dela também. Miguel levou os dedos ao próprio rosto e fechou os olhos. O corpo inteiro ainda em alerta. Como um adolescente. Como alguém que está prestes a se apaixonar, mesmo que o nome disso seja outro.

Ele riu. Baixo. Perigoso.

Porque o que nascia ali não era paz. Era desafio.

E se ela era o fogo, ele estava disposto a se queimar.

— Isso só está começando, Anyellen...

Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa estreita, e sua voz veio baixa, morna, como se sussurrasse algo diretamente entre os pensamentos dela:

— Mas algumas coisas... têm valor.

Anyellen piscou devagar. A frase ficou pairando, como se fosse feita de fumaça quente. Podia ter vários significados. E ela sentia todos. Na pele.

Tentou rir, como quem coloca uma parede onde o corpo clama por pontes.

— E você acha que sabe qual é o meu?

— Ainda não.

Ele sorriu de canto.

— Mas estou disposto a descobrir. Com calma. Ou com pressa, se você preferir.

O coração dela falhou uma batida.

A audácia dele... e o modo como dizia as coisas como se não fossem ameaças, mas convites. Como se não invadisse, apenas seduzisse o portão a se abrir por vontade própria.

A porta da copa rangeu atrás deles e Paula, mais uma vez, surgiu com aquele ar de quem já viu demais. Não disse nada. Só lançou um olhar malicioso para Anyellen e arqueou a sobrancelha, entregando um papel qualquer e saindo em silêncio.

Na borda da folha, uma frase escrita à caneta em letras rápidas:

"Ele mexe com você. Mas você mexe mais com ele. — Paula."

Anyellen engoliu seco.

Dobrou o papel, sem comentar. Mas Miguel percebeu o rubor nas bochechas dela. E, embora não dissesse nada, também não disfarçou o olhar.

Ele a encarava como quem devoraria cada camada, se ela permitisse.

— Você pode ir embora agora, Miguel.

— Posso.

Ele respondeu, sem se mover.

— Mas prefiro ficar mais um pouco. Mesmo que em silêncio.

Ela se levantou.

— O silêncio aqui tem dono. E você não é ele.

A resposta era afiada, mas seu corpo... esse traía cada linha de dureza. O peito subia e descia com esforço. As mãos seguravam a borda da cadeira com mais força do que o necessário. E quando ele se levantou também, a tensão entre eles se fez quase palpável.

— Você me provoca, Anyellen.

Disse, em voz baixa.

— E nem precisa tentar.

Ela o encarou com olhos que não tremiam, mas desejavam gritar.

— Você não é o tipo de homem que me interessa.

— Não ainda.

Ele corrigiu.

— Mas... e se eu for o tipo que te tira o fôlego?

A distância entre os dois era um fio prestes a se partir.

O cheiro do café entre eles já era outro. Tinha um aroma de perigo, desejo, proibição. E o corpo dela; embora firme, pulsava.

Anyellen deu um passo para o lado.

Mas não para fugir.

Para não se perder.

— Vá embora, Miguel.

Ele a olhou. Longo. E, por um instante, o jogo pareceu virar.

Porque ele também estava afetado. Porque até o controle dele tinha limites.

— Só mais uma pergunta...

— Faça.

— Se eu não fosse CEO... Se você não me odiasse tanto... você me deixaria te tocar?

O ar desapareceu da sala.

Anyellen ficou imóvel.

Depois de segundos que pareceram uma eternidade, respondeu:

— Se você não fosse quem é... eu talvez nem te notasse.

— Isso não é um não.

Ela sorriu. De leve. Quase cruel.

— Isso é um talvez que você nunca vai alcançar.

Miguel mordeu o lábio inferior, como se contivesse um impulso.

— Veremos.

E saiu.

Deixando no ar não o perfume do café... mas o cheiro de algo que ainda estava por vir.

Algo que já queimava. Em silêncio.

E em segredo.

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