Aquele final de tarde tingia o céu de tons dourados e rubros, mas não havia beleza suficiente no entardecer capaz de distrair Miguel do que seus olhos acabaram de flagrar.
Anyellen estava do outro lado do pátio, agachada ao lado de uma das meninas menores da ONG, ajudando-a a montar um colar artesanal. Sorria, como sempre fazia quando estava com as crianças. Mas o sorriso, antes tão envolvente, agora parecia um golpe.
No dedo anelar da mão esquerda dela, reluzia uma aliança.
Não era nova. Não era discreta.
E, para Miguel, não era apenas um anel. Era uma cicatriz. Era uma coleira de memórias que ainda a prendia a um passado do qual ele queria libertá-la.
O sangue ferveu. Ele deu um passo para frente e parou. Inspirou, como se aquilo fosse o suficiente para conter o incômodo que latejava no fundo do peito. Mas não era.
Caminhou com passos firmes. Seus sapatos ecoando pelo piso como a aproximação de uma tempestade silenciosa.
— Bonito o anel.
Disse com um tom neutro, ao se aproximar.
Any