Eu estava no sofá, tentando aproveitar um raro momento de silêncio, com Bento enrolado no meu colo e a televisão ligada num programa que eu nem estava assistindo de verdade. Era daqueles dias em que tudo parecia calmo demais e isso, para mim, era sempre um sinal de que algo prestes a acontecer.
A campainha tocou.
Bento ergueu a cabeça primeiro, como se já soubesse quem estava do outro lado. Eu, por outro lado, demorei uns segundos a levantar. E lá estava ele: Pedro, encostado no batente, com aquela expressão de quem tinha pensado em algo e não ia embora sem me contar.
— Algo diferente? — perguntou, sem preâmbulos, como se tivesse me interrompido no meio de uma conversa que não existia.
— Algo diferente? — repeti, arqueando uma sobrancelha, enquanto fingia atenção no celular, mesmo sabendo que ele tinha toda a minha atenção.
Ele se apoiou na porta, um pé na soleira como se temesse que, ao cruzar completamente, eu fechasse a porta na cara dele.
— É. A gente podia... sei lá... sai