Era difícil ver essa imagem de Pedro, ele tão fragilizado. Ele ficou de pé perto da janela, de braços cruzados, como se o vidro pudesse dar uma resposta melhor do que eu. Eu continuei perto da porta, sentindo o batimento no pescoço. Era o mesmo apartamento de sempre, mas nada parecia no lugar.
— Eles transformaram o seu texto em sobre mim — ele disse, enfim, sem me olhar. — Não precisava ter um nome. Bastou o meu histórico.
Engoli seco.
— Eu sei. E dói porque… — procurei as palavras — porque o texto não é sobre você. É sobre o mecanismo. Mas o mecanismo pegou carona no seu rosto.
Ele soltou um riso mínimo, sem humor.
— O mecanismo adora um rosto conhecido.
Fiquei alguns passos mais perto. Não o suficiente para encostar, mas perto o bastante para sentir o ar mudar.
— Eu te enviei a versão ontem à noite — falei, baixo. — Sem nomes, sem insinuações. Eu acreditei que estava sendo correta com o texto e com você.
— Eu li — ele respondeu, virando-se. Os olhos cansados, o maxilar tenso. — E n