O sol não nasceu naquela manhã.
Ou talvez tenha nascido, mas Helena não viu. O céu permanecia encoberto, carregado como um lençol úmido estendido sobre a cidade. Dentro do flat, o ar estava denso, morno demais. Nenhuma luz foi acesa. Apenas as frestas da janela deixavam entrar a claridade de um novo dia que não parecia diferente dos anteriores — exceto por tudo.
Helena acordou antes do despertador. Ficou um tempo deitada, os olhos fixos no teto, ouvindo os sons mínimos do mundo acordando lá fora. Depois se levantou. Cada gesto era meticuloso, silencioso, como se o próprio corpo entendesse que ali não cabiam ruídos.
Arrumou a mala pequena com uma calma que beirava o ritual. Algumas peças de roupa, os documentos, o caderno onde escrevera a carta, o carregador do celular. Deixou de fora o perfume favorito e o casaco que Arthur adorava ver nela. Não por rancor — mas por cansaço.
Antes de sair, escreveu uma única mensagem para Aline:
“Deixei a chave do flat com o porteiro. Cuida das planta