O quarto do hotel era silencioso demais.
O tipo de silêncio que parecia amplificar os ruídos de dentro: o zumbido da ansiedade, o tropeço dos pensamentos, o som abafado do que não se diz.
Helena sentou-se na escrivaninha, a luz do abajur projetando sombras suaves sobre o papel ainda em branco. O caderno fora comprado naquela manhã, em uma papelaria perto do Duomo. Não porque precisasse dele. Mas porque, de alguma forma estranha, achava que só conseguiria organizar o caos se colocasse as palavras com a própria mão.
Digitá-las pareceria impessoal. Racional demais. E ela já estava farta de racionalizações.
Respirou fundo. Pegou a caneta. E escreveu no topo da página:
“Arthur, preciso te contar uma história.”
Parou. Leu. Escrever o nome dele logo de início a fez estremecer. Como se tivesse invadido um território sagrado. Ou quebrado algo que não sabia como consertar.
Mas era isso o que precisava fazer. Ensaiar. Desenterrar.
Tentar colocar em palavras o que vinha engolindo há meses — desde