A sexta-feira amanheceu sem promessas.
O céu nublado refletia com exatidão o que se passava dentro de Helena, e o asfalto úmido parecia mais acolhedor do que qualquer palavra não dita na noite anterior. O flat ainda carregava o cheiro do silêncio, e ela saiu cedo, como sempre, na tentativa inútil de fugir de si mesma.
O porteiro do prédio da Valente abriu a porta com a costumeira cordialidade.
— Bom dia, senhorita Costa.
— Bom dia — respondeu, com um aceno breve, sem parar.
O elevador estava vazio. No espelho, o próprio reflexo a incomodava — parecia mais pálida do que o habitual, como se o cansaço das últimas semanas finalmente tivesse encontrado forma visível.
No sétimo andar, as luzes automáticas se acenderam como de costume. Tudo silencioso, como ela preferia. Mas não havia mais consolo naquele início de dia solitário. Havia só a antecipação de um desconforto que não parecia mais caber dentro dela.
Sentou-se à mesa, abriu o notebook e mergulhou nos dados como quem se esconde atrás