O interfone tocou às nove e pouco da manhã, quebrando o silêncio do flat com um susto suave.
Helena estava na cozinha, de moletom e cabelo preso, segurando uma caneca de chá pela metade. Ainda não tinha decidido se queria enfrentar o mundo ou se esconder dele. Mas quando ouviu a voz de Arthur pelo interfone, não hesitou.
— Sou eu.
Só isso. Sem perguntas. Sem preâmbulos.
Ela destravou a porta de baixo e encostou a testa na madeira por um instante. Respirou fundo.
Arthur subiu os dois lances de escada com a mesma leveza determinada de sempre. Quando ela abriu a porta, ele estava ali — terno escuro, gravata frouxa, o cabelo com aquele desalinho discreto que ele tentava, em vão, controlar.
— Bom dia — disse ele, erguendo uma sacola de papel. — Café. E croissants. Daquela padaria da esquina.
Helena abriu um sorriso, pequeno mas verdadeiro.
— Entrou pro hall dos homens que sabem o que fazem.
— Espero que sim. — Ele entrou, o perfume discreto misturando-se ao cheiro de massa folhada recém-as