Helena acordou com a luz do sol atravessando as persianas do quarto de infância. Estava tudo igual — e completamente diferente. O mesmo travesseiro, o mesmo som distante dos pássaros, o mesmo cheiro da casa nas manhãs. Mas agora, algo nela havia mudado. Uma parte que ela mal conseguia nomear.
Desceu as escadas em silêncio, tentando não acordar ninguém. A casa ainda dormia. Na sala, o som do relógio de parede marcava o tempo num compasso que parecia mais lento ali. Foi até a cozinha, preparou um café forte e se sentou sozinha, observando o vapor subir da caneca.
Na sala ao lado, ouvia-se uma respiração leve — o pai ainda descansava no sofá, onde agora ficava temporariamente enquanto se recuperava. A mãe dormia no quarto do andar de cima. Havia uma paz estranha naquele silêncio, uma trégua não declarada entre passado e presente.
Helena bebeu um gole e olhou o celular. Nenhuma nova mensagem.
Era melhor assim. Mas ainda assim o peito queimava.
Ela já descobrira tudo. Que Arthur não era o