Lisboa
O sol já ia alto quando Helena deixou o hospital. O céu de Lisboa era escandalosamente azul, o tipo de azul que feria os olhos de quem carregava cinzas por dentro. As calçadas de pedra refletiam a luz com força, e o ar seco trazia o cheiro discreto do Tejo, sal e tempo misturados numa brisa antiga.
Ela andava sem pressa pelas ruas estreitas do centro, como se estivesse à procura de alguma coisa — um respiro, talvez. Ou só tentando organizar as camadas da própria dor. O pai ficaria mais algumas horas em observação, mas estava bem. E a mãe insistira para que ela aproveitasse esse tempo de descanso.
“Vai tomar um café, filha. Anda um pouco. Eu fico com ele.”
Helena saiu para caminhar.
Passou por vitrines familiares, reconheceu padarias onde fora aos domingos com o pai, cafés onde esperava por amigas, livrarias com aquele cheiro de papel e história. Tudo fazia parte de quem ela fora, mas agora parecia outra vida. Outra Helena.
Parou num miradouro quase vazio, sentou-se num banco de