O domingo amanheceu lento, arrastado, nublado — como se o próprio céu de Londres estivesse hesitante.
Helena passou boa parte da manhã evitando olhar para o celular. A mensagem de Arthur ainda estava lá, curta e intensa:
"Eu sei que devia manter distância. Mas não consigo."
A resposta dela, um mísero “Boa noite”, parecia ecoar com vergonha dentro da memória.
Ela havia se encolhido. Fingido não entender. Fingido que não sentia.
Mas sentia.
Sentia mais do que era capaz de administrar.
Perto do meio-dia, preparou um café amargo e se forçou a comer alguma coisa. Quando a louça estava lavada, voltou à sala e ficou em pé diante da janela. A cidade seguia seu ritmo normal — ônibus cruzando esquinas, casais passeando, pessoas com sacolas de mercado.
E ela ali. Parada.
Num impulso que nem tentou entender, vestiu o casaco, pegou a pasta com alguns relatórios e saiu.
Disse a si mesma que precisava revisar dados antes da semana começar.
Mas sabia que era mentira.
Sabia exatamente o que esperava —