O sábado à noite chegou silencioso, como se o mundo inteiro tivesse decidido se recolher cedo.
Helena passou o início da noite reorganizando armários, dobrando roupas, encaixando pequenas distrações entre as lembranças que não queria enfrentar.
Mas, quando a quietude da casa ficou grande demais, ela desistiu.
Foi até a cozinha e abriu a garrafa de vinho tinto que guardava para ocasiões especiais — embora não tivesse certeza se aquela era uma ocasião que merecia nada além de sobriedade.
Serviu metade da taça e voltou para a sala. Sentou-se no sofá, os joelhos recolhidos, e respirou fundo antes de dar o primeiro gole.
O gosto forte e ácido se espalhou pela língua, acompanhando um arrepio que não vinha do frio.
Talvez fosse a última vez que ainda pudesse fingir que estava no controle.
Depois do segundo gole, Helena pegou o celular e abriu a galeria de fotos.
Havia poucas imagens recentes — a maioria, registros de relatórios ou anotações rápidas.
Mas, sem querer, encontrou o retrato de um