O carro seguiu pelo centro da cidade, os faróis refletindo nas fachadas de vidro enquanto a noite se adensava. Helena manteve os olhos fixos na rua, mas sentia cada centímetro do espaço entre eles vibrar como uma corda tensionada.
A conversa não veio. Nem precisou. Havia tanto não-dito que qualquer palavra soaria supérflua.
Quando finalmente estacionaram em frente à sede, Arthur desceu primeiro, agradeceu ao motorista e contornou o carro para abrir a porta para ela. O gesto — tão pequeno, tão cuidadosamente formal — teve um efeito desproporcional no peito dela.
— Obrigada — murmurou, baixando os olhos ao sair.
— Foi um bom trabalho hoje — ele disse, com aquele tom neutro que, aos poucos, Helena aprendia a decifrar. Sempre que ele parecia distante demais, era porque estava sentindo mais do que queria admitir.
— Sim. — Ela buscou o cartão magnético na bolsa, apenas para ter algo que a ocupasse. — Eu envio amanhã cedo o relatório consolidado.
— Perfeito. — Ele ajeitou a manga do paletó,