No carro, fui calada. A Clara falava com a mãe sobre as lojas que queria ver, a mãe respondia com aquela voz polida de sempre. Meu pai, no volante, narrava cada barbeiragem dos outros como se estivesse numa corrida da Fórmula 1.
— Olha esse aí. Se fosse mulher, ainda entendia — ele soltou, rindo da própria piada.
Olhei pela janela e Fingi que não ouvi.
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O restaurante era desses de comida por peso, todo limpinho, com música ambiente que parecia trilha sonora de funeral moderno. Sentamos perto da janela. Meu pai começou a servir o prato dele como se fosse uma competição.
— Carne, arroz, batata, mais carne… — ele falava enquanto empilhava as opções.
Minha mãe escolheu uma salada tímida com peixe.
Clara analisava a bandeja como se cada grama pudesse desencadear uma guerra.
— Pega mais um pouquinho de arroz, filha — minha mãe sugeriu, suave.
— Tá bom assim — Clara respondeu, quase num sussurro.
— Melhor não exagerar mesmo — o pai interrompeu, pegando um palmito grande. — Ela já t