Sem chão

O som do segundo tiro ainda tremia no ar quando eu vi o sangue quente escorrer pela fresta da porta. O medo me agarrou a garganta e tudo dentro de mim se desfez em pânico puro, pernas bambas, mãos coladas na madeira. Bati com os dois punhos até doer, até o nó nas palmas arder, mas a porta não cedeu.

Do lado de fora, alguém gritava; reconheci o timbre de Natasha, cortado pela angústia.

Ouvi passos atrás de mim, leves, calculados. Um clique metálico rente à minha nuca fez cada fio de cabelo na minha pele se arrepiar. Meu corpo inteiro entendeu perigo antes da minha mente. Viro devagar. E ela está ali, imóvel como uma estátua de ossos finos: Madre Ágata.

— Achou que me enterraram, sua idiota? — a voz disse, sem cerimônia.

As palavras me atingem como lâminas. A incredulidade borbulha dentro de mim.

— O que você… — consigo sussurrar. — Você morreu!

— É mesmo? — Madre Ágata ri, um som sem alegria.

E aí que eu percebo que jamais perguntei ao Luka se a Agatha realmente tinha morrido, o
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