04

— Trabalha desde muito cedo, então? — ela se ouviu perguntando.

— Vixi, desde quando tive idade o suficiente para me contratarem. Mas antes, cortava grama, empilhava feno nas fazendas e o que mais me davam pra fazer em troca de um dinheiro. Mas — Jhon continuou a falar. Precisava explicar que sua vida acadêmica deixava a desejar por alguma razão. — Eu precisei fazer tudo isso muito cedo por que cresci sem pai. Ele foi embora quando eu era muito novo. Minha mãe e eu demos o nosso jeito. Por isso... preciso tanto desse aumento — as mãos torcendo o boné. — Ela é tudo o que eu tenho.

— Bom, senhor Joseph, eu posso te dar um aumento, referente ao seu cargo. Imagino que vá ajudar, pelo menos 50% do seu salário. Ajudaria, não?

A cabeça do loiro sacudiu em concordância.

— Ajudaria e muito!

Ele sabia que ainda precisaria de mais, o tratamento para a doença da mãe era um dos mais caros, mas com toda certeza conseguiria dar um jeito com todo o resto. Poderia pagar alguém para cuidar da mãe e com isso, trabalhar de noite com tranquilidade. Dona Clarice não estaria mais sozinha e ele, dando seu melhor por ela. Como podia. Como conseguia.

Lennon, porém, começou a divagar os olhos, sem capacidade de iniciar o assunto delicado. Ele parecia feliz com o aumento, já tinha o ajudado como desejava — e fizera até mais, pois os aumentos eram validados, normalmente, com 20 a 25% do salário atual do funcionário; ela o aumentou em 50. No entanto, não fora ajudada. Ainda tinha um problemão e, embora a ideia de Evan fosse eficiente, na prática... sentia-se uma cadela parideira!

Sem perceber, seus olhos caíram, pensativos, sobre a mesa de vidro. Ela não iria fazer aquilo. Não. Sem chances.

Se, por acaso, em um futuro próximo, mudasse de ideia, procuraria um banco de esperma e pagaria pela inseminação. Os abutres poderiam alegar que agira de má fé caso engravidasse dessa forma, e são tão sujos, que poderiam processá-la, alegando também que engravidou para não perder a empresa, como dita o testamento. E seria a mais pura verdade, mas... ela estava vivendo no mundo empresarial por tempo demais para saber que o dinheiro comprava qualquer um, seja um advogado, uma testemunha falsa ou até mesmo o juiz de um júri, inclinado a dar causa ganha aos sócios — depois de lhe encher os bolsos — em um possível processo no futuro.

Por Deus, ela se via tão encurralada.

— Veja bem... — a voz de Evan a fez prestar atenção na conversa que, em algum momento de seus devaneios, começara. Precisava dormir. Os olhos cinzentos mirados no irmão, movimentando as mãos para explicar, detalhadamente, o que Jhon deveria fazer, como se ditasse uma receita de rocambole. — É bem simples. Só queremos um pouquinho do seu sêmen. Podemos pagar o qu-

— E-van Ku-tcher! — ela se viu rosnando, como uma assassina cruel diante de seu alvo indefeso. — Não ficou claro que eu não entraria nesse assunto? Eu já dei o aumento à ele. Por que não consegue manter essa boca de sacola fechada?!

A voz de Lennon, sempre tão sutil e correta, havia se alterado junto a cor de seu rosto. Se achava vermelha de raiva.

— Diachos! Vocês estão falando sério? — o loiro precisou perguntar.

— Sim.

— Não! — Lennon falou mais alto que o irmão. Em seguida, encarou-o com a franjinha fazendo sombra em seus olhos furiosos. — Evan, por que você não procura algo pra fazer? Hm?

Desde pequenos, o mais velho — por apenas alguns minutos — apanhava da mais nova. Por essa razão, ele sabia bem que, o olhar que a irmã lhe direcionava, era uma promessa velada e sádica de que chutaria suas partes mais íntimas. De uma vez, Evan se levantou, dando a volta na cadeira.

— Só não se esqueça que eu também perderei tudo — lembrou-a.

— Eu não me esqueço disso em momento nenhum, Evan.

— Olha... — Jhon os interrompeu. — Eu não posso aceitar o que você me propôs, mas acho que posso negociar.

A dupla de irmãos encarou o loiro, virando juntos a cabeça em sua direção.

— Pelo que eu entendi, ela quer um filho e vocês estão dispostos a me pagar muito dinheiro pelo meu esperma?

— Sim — Evan voltou a se sentar, empolgado com a inteligência do funcionário.

— Por Deus, gente, isso é loucura — choramingando, a mulher voltou a sentar-se. Depois mirou os dois conversando, um falando sandices e o outro, prontamente ouvindo.

Eles se mereciam.

— Diachos — Jhon levou uma mão à boca ao saber do golpe dos sócios.

— Estamos em apuros, amigo.

Os olhos da Kutcher se estreitaram no irmão. Amigo?

Como se estivesse processando todas as informações, Jhon levou um cotovelo à mesa, usando a mão para bagunçar os cabelo. De fato, fazer aquilo seria uma tremenda maluquice. Pelo menos, da forma como estavam propondo. Ele jamais seria capaz de viver a vida sabendo que tem um filho, e que estava sendo ausente pra ele como seu pai fora. E também, sua mãe o mataria se descobrisse que “engravidou” uma mulher antes de se casar. Ela era uma mulher tradicional, criada por uma família tradicional, que cometeu o deslize de desobedecer aos pais e se entregar antes de assumir uma relacionamento sólido. O resultado, foi uma gravidez aos 17 anos e um filho cujo sobrenome paterno não possui.

Jhon era grandinho o suficiente para saber que viviam em um outro tempo, mas também para decidir como queria criar seu filho.

Depois de coçar a cabeça e ficar com os fios dourados completamente desgrenhados, guiou seus olhos azuis intensos e decididos na sua chefe:

— Se querem a minha ajuda, então vai ser do meu jeito — começou. — Quero cuidar do menino como se fosse meu, porque vai ser mesmo. Se possível, te embuchar do jeito certo, como marido e mulher fazem.

— Ma... — Lennon gaguejou. — Você disse, “marido?”

— Ele é esperto — Evan comentou, do seu lado.

Não gostou de ter sido mau interpretado.

— Não é nada disso. Tenho alguns princípios e cresci sendo o homem da casa. Pensar que vai carregar um filho meu que eu não vou estar criando me deixa arriado — Jhon sustentava as sobrancelhas juntas. — E não precisam me dar dinheiro nenhum, nem aumento. A gente casa, seu dinheiro fica todo pra você, dona, e o meu, é meu. A gente faz um filho, você resolve seus problemas e, enquanto isso — sua voz, antes tão firme, se suavizara. — ajude a minha mãe com o tratamento.

— Quer se casar comigo pra me engravidar?

Lennon estava chocada. Não, embasbacada. Seu rosto delicado, com as bochechas vermelhas. Ele estava sendo responsável e sentimental, bem diferente dela que, até aquele momento, não tinha pensado em criar um filho, dar atenção, amor e carinho incondicional. Acabou se odiando por ser egoísta e sem coração, mas nada disso tinha a ver com ela. Não era esse tipo de mulher.

— Olha, eu...

— Eu posso ser um bom marido. Vou te tratar muito bem. Cuidar de você e te respeitar — prontamente se levantou, deixando Evan impressionado com tamanha índole cavalheiresca. — Aliás, posso não ser formado em faculdades, mas imagino que seria bom pra você engravidar de seu marido, ao invés do seu funcionário.

A troca de olhares entre eles durou longos segundos, até Evan cortar o silêncio com seu timbre inconfundível.

— É, ele é esperto mesmo.

Lennon não quis aceitar imediatamente, mas sendo uma experiente mulher de negócios, sabia ser um excelente acordo. Jhon cuidaria da criança catarrenta enquanto ela continuaria sua vida agitada de presidente da maior filial da KutcherTec de Los Angeles. Cuidar de multinacionais, era isso que nascera para fazer. Com a empresa na família e trabalhando para fazer os traidores pagarem por passarem a perna nela. Ela não descansaria até que cada um dos três fossem para a cadeia!

Sob o olhar azul iluminado do funcionário, ela assentiu.

— Muito bem, eu aceito esse acordo — disse, ignorando o YES exagerado do irmão gêmeo. — No entanto, vai precisar passar por exames médicos, comprar roupas novas, se arrumar adequadamente e ensaiar como se portar diante das pessoas. Para ficar convincente, vamos sair a público na próxima semana e dizer que estamos noivos há... não sei, um ano?

Algo incomodou-o. Odiava mentir — na verdade, não sabia fazer isso.

— Como quiser — foi o que conseguiu dizer.

Lennon deu nele mais uma olhada. O porte físico era razoável, nem muito forte e nem muito magro. Não era um problema para ela, já que teriam que dormir juntos. Por Deus, o que custava fazer artificialmente?! Bem, ela pensaria em alguma cláusula a respeito para garantir uma gravidez — só fariam sexo para esse fim. Apenas no período fértil, cogitou mentalmente. De qualquer forma, suspirou, estendendo a mão sobre a mesa.

— Temos um negócio?

— Temos sim, dona — ele apertou a mão de sua chefe, envolvendo-a quase por completo sobre os dedos delicados.

A forma pacata de falar arrancou um sorriso pequeno da mulher.

— Somos noivos há anos — brincou. — Pode me chamar de Lennon.

— Muito bem, Lennon— a fala, ligeiramente hesitante. — Pode me chamar pelo primeiro nome também.

Logo se soltaram.

— Passe todos os dados da sua mãe. A colocarei no convênio da família.

Com os olhos marejados — embora tentasse esconder ao colocar o boné bem baixo —, Jhon assentiu, estralando os dedos nervosamente.

— Como posso te enviar?

— Mais tarde te enviarei uma mensagem. Tenho o seu contato — Lennon apontou para as petições sobre a mesa contendo o registro dele como funcionário.

Depois de assentir, Jhon se virou e saiu da sala. Queria encontrar o banheiro dos funcionários ou qualquer outro lugar com privacidade o suficiente para chorar de soluçar. Eram noites infindáveis indo dormir sem uma resposta, uma solução para sua mãe. Lembrava-se de se ver pedindo baixinho, ajoelhado ao pé da cama, contendo seus choros angustiados como se suplicasse por um milagre ou coisa assim.

Ele estava grato. Acima de qualquer outra coisa, estava grato!

Assim que Jhon saiu, a mulher se sentou na cadeira. Cansada da conversa.

— É... esse é meu cunhado — a voz de Evan a fez revirar os olhos.

— Ah, você ainda tá aqui?!

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