Mundo de ficçãoIniciar sessãoTalvez estivesse tempo demais ali, diante da janela de seu escritório, repensando as inúmeras possibilidades para não fazer aquilo. Não se casar ou embuchar. Lennon adorava seu abdômen trincado e Evan a assustou ao mencionar que ficaria parecendo um baiacu. Nada que seu irmão falava dava para aproveitar, mas era verdade: perderia seu shape!
Ela soltou um suspiro pesado, sentindo-se derrotada quando seu carro passara pela entrada da mansão que vivia sozinha com seus funcionários. Jhon estava ali — ele havia dito por mensagem de texto que estava pronto às 20:40h; um tanto ansioso esse cara. Além do mais, ela ainda não havia pensado em algo que fosse tão perfeito quanto o que estava prestes a fazer: casar-se com um homem de família, aparentemente trabalhador, com dificuldade em digerir laticínios — uma lástima —, mas que está disposto a engravidá-la e cuidar do pacote depois — Lennon se sentia aliviada com essa parte. Andando até seu abajur, desligou-o e deixou a escuridão tomar o cômodo quando saiu e fechou a porta segurando seu tablet de trabalho. Usava um suéter, calça pantalona de alta costura e um tênis de marca. Os cabelos curtos, devidamente lavados e secos, sacudindo sobre os ombros com maciez. Quanto a maquiagem, desistiu de tampar as enormes olheiras; se achava cansada demais para aquilo. Quando terminou de descer as longas escadarias que davam ao andar de baixo, Lennon se deparou com a voz masculina falando com a governanta; esta, sorria com a educação que ele a tratava, curvando-se ao desejar boa noite. Ainda o observando, a mulher lançou o tablet no grande sofá e se perguntou de onde ele tirava tanta educação e carisma e... mania para ser tão irritantemente cavalheiro. Não acreditava em nada daquilo em homem nenhum. Os olhos deles se cruzaram quando a governanta o guiara até a sala de estar, com longos e luxuosos sofá e poltronas e um tapete tão enorme, que Jhon precisou virar a cabeça de um lado à outro para medi-lo. — Boa noite — ele falou primeiro, se aproximando e estendendo a mão. Lennon apertou suavemente. O calor dos dedos do homem sempre pareciam envolver sua pele fria. Com uma caída de seus olhos claros sobre a figura da governanta atrás de seu noivo-improvisado, a mulher acabou não pensando direito ao se aproximar dele e o abraçar sobre os ombros, sussurrando próxima ouvido do loiro: — Vai na minha onda — forçando um sorriso, Lennon o apertou forte, evidenciando a voz melosa: — Senti saudades, meu amor. Ela não confiava em ninguém! Jhon acabou ficando imóvel por um segundo ou dois, tentando entender o que a mulher agarrada em seu corpo estava planejando. E que diachos significava: Vai na minha onda? Mas, como era um cavalheiro, respeitosamente envolveu-a com os braços fortes de trabalhador, cobrindo a cintura fina de sua noiva-repentina. A governanta abaixou a cabeça e se retirou, entendendo que sua senhora não lhe daria mais nenhuma ordem. Lennon sentiu os pés quase escaparem do chão quando sua cintura fora envolvida, tamanha a força daquele abraço. Não para machucá-la — talvez ele fosse intenso assim mesmo —, pois Jhon a abraçou como se a adorasse, como se fossem amigos delonga data que se reencontraram. Como se, de fato, estivesse mesmo com “saudades”... Ele foi mesmo na minha onda, pensou a mulher. Sentindo-se estranha pelo gesto que não compartilhava nem com o próprio irmão — embora, as vezes, sinta vontade de “abraçar” a garganta de Evan com as mãos —, Lennon se afastou. Algo parecido com frio substituiu o calor que não percebeu antes estar em toda a parte. Novamente eles se olharam. — Eu fiz isso por causa da governanta — explicou ela, com a voz baixinha. — Ela está comigo há anos, mas nãos consigo confiar. Não que eu confie em você também, mas sei que tem um bom motivo para aceitar fazer isso. Dando as costas para o loiro, Lennon foi até seu sofá e se sentou. Rápido, ele fez o mesmo na poltrona ao lado dela; nem muito perto, nem muito distante. Também não se ofendeu com o fato de estar na lista de “não confiáveis” de sua noiva-repentina. — Já incluí sua mãe em meu convênio particular, no entanto, ainda não pode usar. Existe um período de carência ao fazer essa modificação. Irei te atualizar quando ela estiver aprovada no sistema, ok? Jhon só fez assentir e abaixar os olhos para o tapete caríssimo. O brilho indicando resquícios de umidade no canto dos olhos provocou raiva em Lennon, por si mesma. Não existia prazo algum. Inventou isso para se garantir quanto ao que estava para apresentar: um contrato de casamento e confidencialidade. Evan disse que era uma má pessoa e muito egoísta por brincar com as aflições das pessoas, mas Lennon precisavas se garantir. Não estava confiando nem na governanta de sua casa, em seus funcionários ou no homem que estava prestes a apresentar como seu noivo diante da nata de empresários. Estava arriscando muito, merecia garantias! Não demorou para pegar o tablet ao seu lado, clicar algumas vezes e estendê-lo ao loiro. Jhon entendeu o que era rapidamente. Ele a olhou de relance sobre o tablet, intrigado com as cláusulas e com a inquietação dela em fazer um contrato... um CONTRATO! No Nebraska, sua palavra bastaria. De qualquer forma, ele leu atenciosamente e agradeceu em seus pensamentos por ela não usar palavras pomposas demais. Levou cerca de dez minutos para que terminasse a leitura e, finalmente, soltar: — Diachos! — agora, a olhava com as sobrancelhas franzidas. — Que história é essa de “ato físico permitido nos dias de ovulação”? — Você sabe o que é ovulação, certo? — E você sabe que marido e mulher faz todo dia, não sabe? Lennon se remexeu no lugar. — Nem sempre eu vou estar disposta. Posso estrar cansada. Posso estar com raiva de você por alguma coisa — ela não percebeu, mas já estava agindo como uma esposa na defensiva. Ele suspirou, devolvendo o tablet. — Não disse que vou te forçar, Lennon — o nome dela na voz de Jhon soou calmo e paciente. — Disse que marido e mulher, se podem fazer amor, então devem fazer amor. Novamente a mulher se remexeu. — Olha, eu não estou encarando isso como um casamento de verdade. Para mim, é um acordo de negócios e, se eu preciso de um herdeiro para continuar o legado da minha família, então somente quando meu corpo “facilitar” essa gestação, que irá acontecer as “coisas”. — É fazer amor que fala. — Você me entendeu — Por Deus, ele estava a irritando. Sentia o rosto arder de raiva. — Tem alguma outra reclamação? Jhon fixou os olhos nela, examinando o rosto corado, os olhos claros e sem brilho ou emoções. Dava para notar nos ombros tensos dela que não estava confortável com a situação, e ele detestou serem tão diferentes. — Meus bisavós se casaram pra quitar uma dívida de terras. E acabaram se amando muito. Pra mim, o nosso casamento vai ser de verdade. Te falei que vou ser um bom marido, então pode abaixar a guarda comigo. Olhá-lo era como nadar para o profundo. Lennon teve a conclusão de que nunca antes conheceu uma pessoa como Jhon... tão intenso e fiel ao que acreditava, ao que fora ensinado, ao que não viveu, mas gostaria de oferecer — percebeu tal coisa quando o loiro garantiu que seria um bom pai para o herdeiro que viesse. Na verdade, Jhon Joseph era uma incógnita de homem. Homens não eram daquela forma. Homens traem, homens controlam e humilham. Sem capacidade de acreditar totalmente que estava diante de um homem decente e amável, Lennon virou o rosto na direção do tablet. Clicou em alguns lugares e depois direcionou-o para o Joseph. — Leia a última linha — ela viu o tom bonito de azul-celeste que os olhos dele atingiram contra a luz do aparelho. E logo depois, foi encarada pelos mesmos olhos: — Você concorda? — Sim, eu concordo. Então, Jhon pegou o tablet, tentando assinar pelo menos cinco vezes — sua letra ficava cada vez mais tenebrosa a cada tentativa. Em seguida, ela fez o mesmo, mas rapidamente como quem já está habituada com aquele tipo de assinatura digital. Os nomes deles combinaram, ao se encontrarem lado a lado, abaixo dos dizeres em letras miúdas: “Ambas as partes concordam em reformular a cláusula 21, se o casamento se tornar de verdade."






