Mundo ficciónIniciar sesiónQuando Jhon avistou sua casa depois de descer do ônibus e caminhar um pouco, sentiu-se mais leve do quando saíra pela manhã. Tudo parecia estar bem mais leve. Seu peito havia escapado das grades da preocupação e era bom demais se sentir assim: com esperança!
Ele andou um pouco mais, até finalmente chegar no portão baixo e azul, com grades finas. O sorriso em seu rosto apareceu em algum momento enquanto batia o ponto no final do dia, pois iria para casa e daria uma excelente notícia à dona Clarice e, desde então não o tirara mais do rosto. Jhon passou pelo pequeno jardim mal cuidado da entrada, cruzou a porta e olhou para o interior da casa. Tudo muito simples e discreto. Viviam em uma casa no subúrbio de Los Angeles, construída mais alta do que espaçosa, usando metade de uma metragem de espaço; as casas vizinhas eram assim também. O quintal praticamente não existia, mas de alguma forma, era perfeita para eles viverem. — Cheguei! — gritou ele, removendo a bolsa de trabalho dos ombros. Bebeu um generoso copo de água, ouvindo a máquina de costura da mãe e sua resposta vinda do quarto. Logo enxaguou o copo e seguiu até ela, parando na porta. — Como foi seu dia? Clarice ergueu o rosto para o filho recostado no batente. O cabelo ruivo e longo preso de modo frouxo no meio das costas. Se achava sentada em uma mesinha pequena no qual usava para costurar panos de prato. Ela sorriu, com o lábio um tanto desprovido de cor. — Meu dia foi ótimo. Ganhei mais tecidos e linhas — ela aponta com o queixo uma caixa pequena abandonada aos pés. — Estou vendo — andou até ela. — Pelo menos vai ajudar um pouco com as contas — disse, voltando sua atenção para os recortes de pano. O som da máquina voltou a preencher o ambiente. — E o seu dia, meu filho? Como foi? Um breve silêncio fez a agulha agitada na máquina parar. Clarice estava agora olhando fixamente para o filho, que agachara ao seu lado. — O que foi? — perguntou, percebendo os olhos azuis brilhantes de Jhon . — Eu recebi uma proposta. Minha chefe está com problemas, coisa de gente granfina — enrugou o nariz e então sua atenção se desviou para o cabelo vermelho, enquanto revelava: — Ela é solteira e quer um filho. Eu me ofereci para isso. De uma vez, ela se virou sobre a cadeira, derrubando a tesoura antes abandonada em algum lugar da mesa pequena. As sobrancelhas ruivas unidas em completa confusão. Seu filho havia dito aquilo mesmo? — Você oque, Jhon? Suspirando, temendo A Veia aparecer e aterrorizá-lo, ele apenas se ergueu — se surgisse em algum momento daquela conversa, ele correria em disparada. — Bem eu... me ofereci para dar esse filho à ela. Mas vamos nos casar — tratou de sacudir as mãos. — Vou criar a criança como se fosse minha. Sabe que eu sempre quis ser pai — terminou a fala em um sorriso convincente. Clarice riu, confusa. — Gosto de saber que a ausência de seu pai não foi capaz de roubar a capacidade de amar uma criança, querido, mas... como diachos VOCÊ conseguiu um casamento arranjado com SUA chefe? — É uma longa história, mãe — Jhon coçou os fios dourados. — Encurte — exigiu, cruzando os braços. — Tenho tempo para ouvir bem. Então ele estralou os dedos, medindo as palavras. Explicou devagar, parando para responder as perguntas que surgiam da parte de Clarice e vez ou outra ele precisava esperá-la rir, desacreditada. Até mesmo a parte em que seu filho estava disposto a casar-se com a própria chefe — no qual ela já ouviu chamar de bruaca com o amigo por telefone — apenas para tratá-la. De forma gentil, Jhon pegou a tesoura do chão e pousou sobre a mesinha. — Confesso que não imaginei ser pai dessa forma, e também queria me casar com alguém que amo — um suspiro seguro escapou dele, mirando os olhos azuis úmidos na mãe. — Mas nem sempre a vida nos permite fazer do nosso jeito. Eu sei que essa é uma boa oportunidade. Bem melhor do que o aumento, porque teria que continuar tentando ganhar dinheiro, então... estou pronto para fazer isso. — Meu filho — Clarice se virou mais pra ele. — Também quero que se case por amor, e que faça menino. Seria o melhor presente dos céus se pudesse conhecer meus netos. Mas não sei se quero que faça dessa forma. — Mãe, você sabe que o tratamento vai te dar mais tempo para ver esses netos crescerem. Mais condição também — Jhon pegou a mão da mulher, demonstrando sua certeza com a decisão. — Não me sinto infeliz por fazer isso, mãe. Me sinto aliviado. — Não a ama, meu filho. Como isso pode dar certo ou fazer sentido? — Vou ajudar ela e ela vai me ajudar. Não seria muito diferente dos meus bisavós. Ao final da frase, Clarice suspirou. Seus avós se casaram ainda bem jovens, para quitar terras no interior do Nebraska. Um casamento arranjado, que fez sentido NAQUELA época, mas, não viviam mais naquele tempo. Arranjar um casamento parecia ultrapassado — até mesmo para ela, uma mulher tão tradicional. Os olhos escuros da mulher se voltaram para o filho, soltando as mãos unidas a fim de cruzar os braços. — E não é só isso. Que tipo de mulher é essa que decide fazer menino com o próprio funcionário? A Veia evidenciou-se na testa dela. Não demorou para Jhon ficar de pé. — Já te disse, mãe. Ela sofreu um golpe de pessoas que trabalham com ela. Não quer perder a empresa da família. Só isso. — Uma maluquice dessas apenas para não ficar pobre? — Acho que não é bem assim — o loiro precisou dar um passo para trás. A Veia ficando cada vez maior. — E está prestes a fazer menino com um homem simples como você... diachos! Essa madame não me parece uma boa moça, Jhon ! — Oxe, mas ela é uma moça muito boa. Vai ajudar a senhora com o tratamento. Clarice o encarou. — Você e aquele apostador que trabalha com você vivem dizendo coisas ruins sobre ela. É. Sua mania de falar alto demais ao telefone te colocou em uma enrascada agora, rapaz. De fato, Mike não media as palavras para falar mal da chefe deles e, por vezes, Jhon se deixava levar. Lennon era sempre tão metida e inexpressiva, que transmitia a sensação de se considerar superior aos outros. Eles não eram os únicos funcionários que não iam com a cara dela. — Diachos, dona Clarice! — incomodado, ele guiou ambas as mãos até a cintura. — Onde está a mulher que sempre me disse que "a sabedoria nos protege e nos livra de fazer o mal"? Eu sei o que estou fazendo e estou sendo sábio, como sempre me ensinou! Se Clarice soubesse o que os irmãos Kutcher estavam propondo, acreditaria em Jhon. Ele poderia ter sido egoísta e recebido uma quantia exorbitante, mas preferiu seguir pelo ensino de sua mãe e honrá-la sem ganância. Casaria e construiria uma família. E, no fundo, pensava que sua chefe, ou melhor, sua noiva, não podia ser uma mulher tão difícil assim de amar... ou era?! — Acredite, não me sinto infeliz — garantiu ele. — Sim, já disse isso... — o rosto dela se suavizara no instante em que encontrou o brilho de determinação presente, imutavelmente, nos olhos cor de céu do filho. Clarice sorriu docemente, como se antes A Veia, não estivesse ali ameaçando-o, e confessou: — Tenho muito orgulho do homem que se tornou, querido. Com um sorriso pequeno, ele se aproximou — já não havia mais perigo — e a abraçou pelos ombros. A mão acariciando o braço fino da mãe. — E quando eu irei conhecer minha futura nora? A pergunta fez Jhon imaginar o encontro entre elas, tirando dele um sorriso confiante de que, apesar das diferenças, elas se darão bem. Então respondeu, a apertando um pouco mais: — Logo. O abraço entre mãe e filho durou tempo suficiente para que Clarice começasse a derramar sutis lágrimas de alegria. A mulher sentiu o filho a apertá-la um pouco mais, quando um “beep” acabou por se afastarem momentaneamente. Jhon retirou o celular do bolso e conferiu o número desconhecido, assim como a mensagem de ordem: Meu motorista vai te buscar às 21h.






