Casei com um Caipira e ele trabalha pra Mim
Casei com um Caipira e ele trabalha pra Mim
Por: Amanda Fernandes
01

O corredor do hospital central de Los Angeles era tão branco e tão iluminado, com aquele cheiro insuportável de álcool e formol, que a mulher pisando firme sobre o piso refinado pensou que vomitaria a qualquer momento. A enxaqueca já a incomodava desde que acordara, piorando tudo.

Tinha acabado de visitar seu pai, um homem já de idade avançada e com Alzheimer. Ele raramente se lembrava dela, insistindo que seus filhos ainda eram pequenos e que ela era sua esposa há muito falecida. Acabava ficando frustrada todas as vezes que o visitava, pois as perguntas sempre eram: “Como estão as crianças?”, “O que terá para o jantar hoje, querida?”, “Você continua tão linda quanto quando nos casamos.”

Obviamente que não o culpava pela condição, só que seu coração sentia falta do amado pai que a doença lhe roubara...

Duas noites atrás, o velho Kenny se acidentou quando tentou tomar banho sozinho, após despistar a cuidadora — em sua cabeça, era jovem e tinha uma reunião de negócios — e com isso, foi parar no hospital com um traumatismo craniano grave.

Ele estava sedado quando adentrou no quarto, mas acordado. O médico lhe informou que se não fosse assim, Kenny poderia querer se levantar. Na noite anterior, inclusive, o velho precisou receber duas doses altas de sedativo, já que não se lembrava do acidente que sofrera e afirmava, veementemente, que precisava ir ao jogo de basquete do filho adolescente — Evan já era um homem feito —, além de gritar, a plenos pulmões que havia sido enganado.

Bem, mesmo que ele estivesse em um estágio avançado da doença, em alguns momentos, recobrava a sanidade e processava sua dura realidade... e esses momentos eram tão breves, que Lennon pensava ser a parte mais cruel da doença. Doía vê-lo se lamentar e chorar, desesperadamente, por sua mente condenada. E a reação do velho Kenny era sempre dilacerante, vez após vez, ele reagia da mesma forma angustiante. Por outro lado, a consciência vinha e rapidamente ia embora, guiando-o, enganosamente, para um tempo onde estava começando a carreira como empresário, sua esposa ainda era viva e seus filhos gêmeos não passavam de crianças fofas.

E naquela visita, especificamente, Lennon presenciou um desses momentos de recobrada de consciência. E sua náusea repentina não se dava apenas pela claridade exagerada e o cheiro forte do hospital, tampouco sua constante enxaqueca. Lennon havia ouvido de seu próprio pai o que os médicos testemunharam a noite até sedá-lo: Haviam o enganado!

Ela ainda duvidou da sanidade do velho por insistir em tais palavras, mas bastou Lennon entrar no cômodo junto do irmão gêmeo para descobrir que, Kenny Kutcher estava são! Ele sorriu com os olhos lacrimejantes e os reconheceu. Durou pouquíssimos minutos, mas o que ele revelou foi o bastante: O testamento dele havia sido corrompido por um dos sócios e a lástima era que o velho não se recordava de qual daqueles abutres gananciosos haviam abusado de sua situação.

Os gêmeos de olhos perolados tranquilizaram o pai, garantindo-o que a empresa no qual ele passou a vida erguendo se manteria na família. Ambos o beijaram e o abraçaram com força, para logo depois a consciência de Kenny se dissolver completamente e os enfermeiros precisarem sedá-lo: Kenny se enciumou com o “outro homem” junto de sua “esposa”.

— Será que dá pra me esperar — Evan falou alto, alcançando a irmã mais nova por alguns minutos. Ele usava um terno caro, parando com os sapatos lustrosos ao lado dela antes de alcançarem o saguão de entrada. — O que vai fazer? Tem algum plano?

O scarpin de Lennon batucou contra o piso conforme alcançavam a saída. Não, ela não tinha porcaria de plano algum!

— Primeiro, questionar o advogado do papai. Seria impossível alterar o testamento se ele não estivesse envolvido nisso...

— Vou contactar o meu advogado — a mão do gêmeo foi para o bolso, sacando o celular. Já haviam alcançado a calçada do hospital. — Deixarei Hugo a par de toda essa situação. Assim que tiver mais informações, me ligue e eu repasso pra ele.

— Por acaso, esse é o advogado que livrou você de ir pra cadeia? — Lennon estreitou os olhos azuis-cinzentos.

— Eu não iria pra cadeia, de qualquer forma e sim, é ele mesmo — a desafiou com o olhar, se defendendo.

A gêmea se virou mais, com o braços cruzados e o cabelo negro se movendo sobre os ombros. Suas vestes sociais de alta costura revelavam seu gosto requintado. Ela esboçou uma expressão de desacreditada, e um tanto rançosa:

— Evan, assédio no trabalho é crime!

Os olhos perolados do homem se reviraram.

— Eu não assediei aquela mulher.

— “Aquela mulher” era sua secretária, e chamá-la de gostosa em ambiente de trabalho é no mínimo antiético.

— Ué, ela é gostosa mesmo.

Lennon bufou.

— Deixa isso pra lá. Você é um caso perdido — passou a vasculhar dentro da bolsa a chave de seu carro de marca estimada. — Estou indo ver o advogado do papai. Espero que cumpra sua parte e que esse seu advogado preste.

O homem estalou a língua.

— Pare de ser tão mandona.

Então, os gêmeos se separaram, indo cada um para um lado. Tinham um legado de família para resgatar do bico de um bando de abutres.

(...)

As mãos dela foram ao rosto, cobrindo-o. Não podia acreditar no que estava naquele documento abandonado sobre a mesa, assinado por seu pai...

O testamento indicava uma herança direta aos netos de Kenny Kutcher, não aos filhos. Um vez sem netos e com a morte deste, a empresa seria automaticamente transferida aos três sócios principais — Que Lennon conhecia muito bem. Para piorar a situação, a herança da empresa só seria válida se ela tivesse filhos; a cláusula principal era ela, não Evan.

Provavelmente, os espertos levaram em conta a vida libertina de Evan e a possibilidade de acabar engravidando alguma mulher por aí — o que seria um risco para o plano maquiavélico deles —, porém Lennon, fugia de relacionamentos como a escuridão foge da luz.

Ela se viu respirando fundo. Sentia tanta raiva...

— O advogado do meu irmão irá entrar em contato com você — avisou ao advogado que, desde que ela aparecera em seu escritório, sustentava uma expressão assustada e ficando tão pálido quanto podia ficar. Ela o mirou com os olhos claros, o perfurando com seus sentimentos e pensamentos duvidosos. — O que? Pensou que iam tirar tudo de mim e do meu irmão? Vocês, idiotas, acreditaram mesmo que meu pai iria morrer e tudo que ele lutou para erguer a vida inteira iria parar na mão imunda de vocês? — ela soltou um sorrisinho maldoso. — Vocês são patéticos.

Com o testamento em mãos, Lennon saiu batucando os saltos caros no piso barato. Não precisou se virar para conferir o advogado que cuidou das coisas de seu pai por anos, pegar o celular e ligar para os outros traidores.

Ela tinha uma empresa para salvar e provas para reunir. O que fizeram era crime, mas só existiam as palavra dela e de Evan, contra a deles; naturalmente, a palavra de um velho sem sanidade não seria válida nem naquele mundo e em nenhum noutro. E também, seria impossível fazer o velho Kenny assinar algum novo documento, ainda mais estando acidentado e constantemente sedado.

Sua única alternativa fora se encontrar com o irmão e o advogado nos próximos dias, e lidar com a ideia estapafúrdia de Evan, em uma conversa privada, de pagar alguém para engravidá-la!

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