Rose perdeu o apetite. O garfo tremia em sua mão, mas ela mal conseguia levar algo à boca. Ao seu lado, Franck inclinou-se perigosamente perto, sua voz baixa e carregada de ironia.
— Vai perder a fome só porque eu cheguei? — sussurrou, com um meio sorriso.
Rose manteve os olhos fixos no prato, fingindo ignorá-lo, mas o coração batia acelerado e pensava “Frank pertence a essa família e agora?”
Enquanto isso, ao redor da mesa, todos conversavam sobre o casamento dela como se ela não estivesse ali. Falavam de convites, da festa, do vestido, como se Rose fosse apenas uma peça em um tabuleiro. Ela se sentia invisível.
De repente, Franck quebrou esse silêncio sufocante. Pegou um pedaço de peixe assado, colocou no prato de Rose e ordenou em voz baixa:
— Come.
— Eu não quero — ela murmurou, tentando resistir.
Foi então que, por baixo da mesa, a mão quente dele pousou em sua coxa. Rose estremeceu, um arrepio percorreu sua espinha. Segurou a mão dele com firmeza, impedindo que avançasse mais.
— Para com isso! — sussurrou entre dentes.
Franck aproximou o rosto, o olhar faiscando.
— Parar por quê? Você é minha. — A voz dele era uma sentença, não um pedido.
Rose lutava contra a pressão da mão dele, que insistia em subir. A mão direita dela permanecia ocupada, tentando contê-lo, e Ana, curiosa, notou o detalhe. Viu que Rose mal tocava no prato, sua mão sempre para baixo. Também reparou que Franck havia servido o peixe para ela.
— Termina de comer o seu peixe, irmãzinha — Ana provocou, com um sorriso venenoso.
Rose respondeu com um sorriso falso, levantando o garfo com a mão livre e fingindo naturalidade. A cada garfada forçada, sentia o calor da mão de Franck subir mais, até alcançar sua virilha. O choque a fez dar um pequeno pulo, e o garfo escorregou, caindo no chão com estrondo.
Imediatamente, Franck recuou, como se nada tivesse acontecido. Mas Rose sabia e Ana percebeu também.
Todos olharam para ela no mesmo instante. O rosto de Rose ardeu em chamas.
Franck, levantando-se com autoridade. — Um novo garfo para a senhorita.
O empregado correu, e Rose baixou a cabeça, humilhada.
Franck inclinou-se novamente, murmurando baixo o bastante para que só ela ouvisse:
— Não se intimide. A culpa não foi sua.
Rose respirou fundo, tentando recuperar a compostura.
— Meu Deus… pára de me tocar! — sussurrou, quase implorando.
Mas quando ergueu os olhos, viu a satisfação estampada no rosto dele. O perigo e o prazer de dominar estavam misturados em seu olhar. E, mesmo contra sua vontade, Rose não pôde deixar de notar como ele estava impecável: terno preto, gravata justa, cada traço de sua beleza realçado. Um homem poderoso, um homem perigoso… um homem impossível de ignorar.
O empregado trouxe outro garfo, e Rose terminou seu peixe em silêncio, cada garfada pesada como chumbo.
A sobremesa foi servida. Pequenas colheradas adoçavam o paladar, mas Rose mal sentia o sabor. Até que Franck, sem pedir permissão, pegou sua colher e provou sua sobremesa.
Ela o encarou, indignada.
— O que é seu é meu — ele disse, sorrindo com ousadia e mostrando quem manda.
Rose olhou ao redor, aflita, para ver se alguém percebia o atrevimento. Mas todos pareciam distraídos.
E, debaixo da mesa, novamente, a mão de Franck acariciava suas coxas, lenta, possessiva, como se estivesse marcando território.
Rose sentiu o corpo estremecer. Não sabia se era ódio, medo… ou algo ainda mais perigoso.
De repente, a voz grave de Senhor DeLuca quebrou o burburinho à mesa:
— Filha… Martin é um homem de negócios. Espero que, depois do casamento, você o acompanhe para a Alemanha. Ele cuida dos interesses da família lá.
Rose ergueu o olhar, respirou fundo e respondeu com firmeza:
— Com certeza, eu o acompanharei.
Ao seu lado, Franck bufou discretamente, mas o bastante para que Rose notasse.
— Enquanto isso, Francisco nos ajuda na administração dos negócios aqui — completou Lúcia, a matriarca, com voz firme e elegante.
— É verdade — disse Franck, sem tirar os olhos de Rose. — Gosto de ficar aqui.
— Francisco é meu braço direito — acrescentou o pai. — Já estou mais velho… e quando partir, tudo que tenho na Itália ficará nas mãos dele. Mas também está na hora de Francisco pensar em se casar.
Lúcia suspirou e lançou um olhar de repreensão ao filho:
— Tudo que arrumamos para ele, ele recusa. Mas precisa parar com essa vida de solteiro e arranjar uma moça séria para casar.
Franck sorriu, frio e seguro de si:
— Não se preocupe, mamãe. Já estou arrumando alguém séria para casar.
O olhar de Rose congelou. Lúcia se iluminou de alegria.
— Que bom, meu filho! Fico feliz em saber que está tomando essa atitude. Você é mais velho que Martin, e seria justo que casasse primeiro.
Franck se inclinou levemente para trás, com um sorriso enigmático:
— Nunca se sabe, mamãe… nunca se sabe.
Lúcia balançou a cabeça com ternura.
— Francisco sempre cheio de surpresas.
Nesse instante, Ana, como que tomada por um impulso, ajeitou os cabelos, erguendo o queixo, na ilusão de que talvez pudesse ser ela a “escolhida”.
Antônio Vitale aproveitou para comentar, em tom de orgulho disfarçado:
— DeLuca, você teve sorte… dois filhos homens para ajudar nos negócios. Já eu, apenas duas filhas, que só servem para bons casamentos.
A mesa caiu numa risada contida.
O Senhor DeLuca então se inclinou para frente, olhando para Franck com expectativa:
— Você teve sorte, Antônio, que Martin não desistiu do casamento. Ficou interessado em Rosalie. Já Francisco… recusou várias pretendentes. Mas confesso… estou ansioso para conhecer essa que mexeu com o coração do meu filho mais velho.
As palavras ecoaram na mente de Rose como um trovão. O estômago se revirou, o suor gelado escorreu pela nuca. Sentindo-se sufocada, ela se levantou abruptamente:
— Com licença… preciso ir ao toalete.
Franck apoiou o cotovelo na mesa e disse com um sorriso de canto:
— Eu mostro o caminho.
— Imagina, não precisa! — retrucou Rose, nervosa, quase em súplica.
Lúcia acenou delicadamente para um empregado, mas Franck foi mais rápido:
— Também preciso ir… Eu levo a senhorita.
O sangue de Rose gelou. O coração acelerou a ponto de latejar nos ouvidos.
— Terminamos o jantar — disse Senhor DeLuca, levantando-se. — Vamos ao escritório fumar um bom charuto.
As mulheres seguiram para a sala de estar, e os homens para o escritório. No entanto, Franck já estava de pé, puxando a cadeira para trás, o olhar preso em Rose.
— Por aqui, senhorita… — disse, acenando para ela com aquele sorriso perigoso, que parecia esconder muito mais do que simples cortesia.