O silêncio dentro do carro do meu irmão é tão pesado que chega a doer nos ouvidos. O som do motor é a única coisa viva entre nós. Lá fora, o mundo parece distante, as árvores passando rápidas, o céu encoberto, o vento frio que corta o ar. Nada parece real. A cada curva, sinto o estômago se revirar, como se a estrada me conduzisse direto para um destino do qual não poderei escapar.
Henrique dirige como sempre — firme, impassível, com o maxilar travado. A mesma expressão de quem nunca conheceu o calor de um sorriso verdadeiro. Desde crianças, fomos estranhos um ao outro. Ele sempre pareceu irritado com minha existência, como se eu fosse um lembrete vivo de algo que ele odiava.
— Existe alguma mudança com o papai? Pergunto, quebrando o silêncio, com a voz fraca, quase implorando por uma resposta que me acalme.
— Não que eu tenha ouvido falar. Ele responde, seco, sem me olhar, girando o volante com um gesto automático.
Seguimos em silêncio por mais alguns minutos. O caminho não é o mesmo