O carro avança pelas ruas cinzentas de Manhattan City, e o silêncio entre mim e Henrique é sufocante. Ele dirige com uma tranquilidade irritante, os dedos tamborilando no volante como se nada tivesse acontecido na noite anterior. O mesmo homem que quase me matou agora parece calmo, quase entediado.
Eu o observo de soslaio. Os traços perfeitos herdados de nossa mãe — os olhos claros, o queixo marcado — não escondem o monstro que ele é. Sempre foi o favorito dela. O filho obediente, o braço forte, o que faria tudo o que ela mandasse. E ela, claro, adora isso.
O motor ronca quando ele muda de faixa. Eu encosto a testa no vidro frio e observo os prédios altos refletindo o sol fraco da manhã. Lá fora, o mundo parece continuar sem perceber que o meu está prestes a desmoronar.
As imagens da noite passada insistem em me assombrar: o grito, o empurrão, o gosto metálico do sangue na boca. A dor no pescoço. O olhar dele.
Fecho os olhos com força.
— Para de pensar nisso... — sussurro para mim mes