Amara
Acordei com o celular vibrando sem dó. A chuva da madrugada tinha ido embora, mas o barulho novo era pior que trovão… notificações, menções, vídeos recortados, opiniões sobre a minha vida. Abri a tela e as primeiras palavras me acertaram como pedrinhas na janela:
#EsposaRefém.
#RainhaDaSeitaBlackwell.
#AcordaAmara.
Engoli seco. Rolei mais um pouco. Entre ataques, apareceu uma mensagem privada de uma mulher que eu não conhecia:
— “Obrigada por falar daquele jeito na coletiva. Saí de casa ontem. Não sei o que faço agora, mas saí.”
Fiquei olhando para a frase. Ela tremia. Eu também. Mirella entrou na sala em silêncio, com dois cafés.
— Dormiu bem?
— Entre uma hashtag e outra — respondi, tentando rir de mim mesma.
Ela sentou perto.
— As redes viraram praça. Gritam, xingam, abraçam, tudo ao mesmo tempo.
— Eu sei — sussurrei. — E eu… eu sinto que preciso dizer algo. Não com nota, nem com assessoria. Só eu.
Ronan apareceu na porta, tablet na mão, cara de quem já atravessou uma maré de