Damian
A intimação chegou às 6h42, fria como papel molhado.
— “Compareça para prestar depoimento… conspiração… violência doméstica… coerção da esposa…”
Ronan leu duas vezes, depois me encarou.
— Quer que eu atrase isso?
— Não. — Dobrei o papel com calma. — Atraso é história que eles inventam. A gente vai e conta a nossa.
No carro, a cidade parecia segurar o fôlego. Do lado de fora, câmeras. Do lado de dentro, silêncio e estratégia. O lobo caminhava sob a pele, impaciente, rosnando contra palavras que não tinham cheiro de verdade.
— “Sangue, quero banhar o chão com sangue deles.” — ele pedia.
— Não hoje — respondi por dentro. — Hoje é voz.
A sala de audiências tinha luz branca demais e gente demais. Procuradores sentados, olhos que medem. Advogados do outro lado, prontos para transformar dúvida em manchete. Meu advogado, Lucca, inclinou-se:
— Firme. Curto. Dado primeiro, adjetivo nunca.
O promotor abriu:
— Senhor Blackwell, o senhor participa de rituais, correto?
— Participo de projeto