Damian
Quando amanheceu, os jornais já tinham inventado três versões para a noite no porto. Em duas, eu era herói de fumaça, na terceira, vilão com cheiro de sangue. O conselho pediu “gesto público”, e eu ouvi “armadilha com microfones”. Respondi que não cederia a cerimônias. Cedi, mas do meu jeito.
— Coletiva às quatro — informou a diretora de comunicação, ansiosa, entrando no escritório com um tablet cheio de gráficos. — Rumores pedem oxigênio controlado. E precisamos da senhora Blackwell ao seu lado. A narrativa funciona melhor quando é… casal.
Olhei a cidade além do vidro. O reflexo me devolveu alguém marcado por pontos que a camisa escondia. O ombro ainda doía, a lembrança do ferro insistia em ficar. Pensei em Amara dormindo por algumas horas, a testa tranquila pela primeira vez em dias. Pensei nas linhas prateadas que ela me descreveu ao acordar, um brilho fino que a lua desenhou. Presságio, talvez, ou meu desejo de nomear.
— Não terão casal — falei, voltando para a mesa. — Ter