Amara
Voltamos no silêncio espesso que fica depois da violência. O motorista manteve os olhos na estrada, Ronan falava baixo no rádio, alinhando versões, apagando rastros.
Eu só escutava a respiração de Damian, irregular, pesada, como se o corpo lutasse para caber de novo dentro da pele.
As mãos dele estavam manchadas, a camisa colada ao ombro pela própria dor. A lua vinha pela janela e, quando tocava o rosto dele, um brilho âmbar insistia em não ir embora.
Subimos pelo elevador privativo. Victor nos esperava com a casa preparada: kit de primeiros socorros aberto, toalhas, água morna, luz baixa. Agradeci com um aceno que não aprendi com ele, aprendi com a urgência. Damian sentou no sofá e começou a tirar a camisa. O tecido raspou no corte e ele prendeu o ar, mas não reclamou.
— Deixe — falei, ajoelhando à frente dele. — Eu tiro.
Cortei a manga com a tesoura do kit, desfiz o botão, ergui o algodão devagar. A pele dele estava quente, marcada, linhas de sangue desenhando mapas que eu