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Um Estranho em Angra 2

Analu

— Ana Luísa. Mas pode me chamar de Analu. E diversão de verdade? Tipo o quê? Fumar cigarro na rua e andar de moto velha? Desculpa, mas meu tipo de diversão envolve mais do que isso.

Ele deu uma gargalhada genuína, como se eu tivesse contado a melhor piada.

— Moto velha? Ela é minha fiel escudeira. Me leva pra onde eu quiser, sem frescuras. Diferente desses carrões que param no sinal e nem olham pros lados. Mas ei, se você quiser dar uma volta, é só pedir. Aposto que nunca sentiu o vento de verdade na cara.

Eu cruzei os braços, tentando manter a pose.

— Obrigada, mas passo. Eu prefiro meu motorista. Mais seguro. E menos... bagunçado.

— Bagunçado é bom, Analu. Mantém a vida bem mais interessante. Você parece do tipo que tem tudo planejado, né? Casa grande, pais ricos, amigos perfeitos. Mas e aí, tá feliz mesmo? Ou só fingindo?

Aquilo me pegou de surpresa. Como ele sabia? Ou era só chute? Senti uma pontada de raiva misturada com curiosidade.

— Você não me conhece pra julgar. E felicidade? Eu tô ótima. Melhor que você, com certeza.

Ele piscou, ainda sorrindo.

— Talvez. Mas olha só, a gente se esbarrou aqui. Destino, né? Quem sabe a gente não se vê por aí.

Antes que eu pudesse responder, as meninas apareceram do nada, rindo e chamando meu nome. Elas viram o Cayo e os amigos dele, e pronto: modo flerte ativado. A Bia foi a primeira, com aquele sorriso de quem adora uma aventura.

— Uau, quem são esses gatos? Amigas, olha só!

Os amigos do Cayo — um loiro tatuado chamado Léo, um magrelo risonho chamado Juninho e outro mais quieto, Vitinho — se levantaram, entrando na onda.

— E aí, meninas? Querem se juntar? A gente tem cerveja gelada e boas histórias.

A Mari, sempre a ousada, já tava trocando olhares com o Léo.

— Claro! Eu sou Mari. E vocês são de onde?

— Rio, quebrada mesmo — disse o Juninho, piscando pra Bia. — Mas a gente veio curtir Angra. Vocês parecem saber como se divertir de verdade por aqui.

Em minutos, elas estavam rindo, trocando números de celular e marcando de se encontrar à noite numa festa na praia. A Lú pegou o celular do Vitinho e digitou o dela, toda vermelha mas animada.

— Me liga, hein? A gente pode dançar um funk juntos!

Eu fiquei ali, assistindo, com um misto de irritação e inveja. Elas pareciam tão livres, flertando sem pensar duas vezes. Mas eu? Eu via o Cayo me olhando de canto, como se estivesse me desafiando.

— Viu? Suas amigas sabem curtir. E você, Analu? Vai trocar número também?

— Nem morta — respondi, seca. — É perda de tempo se envolver com caras como vocês. Sem ofensa, mas a gente é de mundos totalmente diferentes. Vocês aí com moto e cerveja barata, a gente com... bem, o resto bom da vida.

Ele ergueu as sobrancelhas, mas o sorriso não sumiu, ele não se abala.

— Mundos diferentes? Talvez. Mas às vezes, é isso que torna tudo mais divertido. Pense nisso, princesa.

Peguei os petiscos e voltei pras meninas, que agora estavam animadíssimas.

— Meninas, sério? Aqueles caras? Eles são... sei lá, não combinam com a gente.

A Bia riu.

— Ah, Analu, relaxa! É só diversão. Não é como se a gente fosse casar com eles. Mas olha, o Juninho é fofo. E tem tatuagem! Imagina a cara da sua mãe se soubesse.

Eu ri forçado.

— Exato. Minha mãe me mataria. E a de vocês também. Vamos focar na gente, vai.

Mas no fundo, eu tava confusa. Repulsa pelo jeito dele, sim — arrogante, conquistador, como se pudesse ter qualquer uma. Mas atração? Aquela faísca quando ele me chamou de princesa, o jeito que ele me olhava como se visse além da fachada... era novo. Perigoso. Decidi manter distância. Nada de números, nada de mais conversas. Voltei pra espreguiçadeira, tentando ignorar o grupo deles ali perto, rindo alto.

O dia seguiu: mais sol, mais drinks, mais selfies. À tarde, a gente foi pro mar, nadando e jogando conversa fora. Mas eu não parava de olhar de relance pro quiosque. Cayo tava lá, fumando um cigarro, conversando com os amigos. Ele me pegou olhando uma vez e acenou, com aquele sorriso torto. Eu virei o rosto rapidinho.

Então, no fim da tarde, quando o sol tava começando a baixar, ouvi uma voz familiar:

— Analu! Que coincidência te encontrar aqui!

Era o Humberto. Alto, loiro, olhos verdes, camisa polo impecável e bermuda de marca. O cara que eu já tinha ficado umas vezes em festas da elite. Filho de um amigo do meu pai, futuro advogado, tudo que mamãe sonha pra mim: casamento perfeito, família unida, reputação intacta. Ele apareceu do nada, com um sorriso branco de comercial de pasta de dente, e se jogou na espreguiçadeira do meu lado.

— Humberto? O que você tá fazendo em Angra? — perguntei, surpresa mas não tanto.

Ele sempre aparece onde as pessoas "certas" estão.

— Vim com uns amigos. Mas agora que te vi, o fim de semana melhorou mil vezes. — Ele se inclinou e me deu um beijo no rosto, bem perto da boca.

Colado mesmo, marcando território. As meninas piscaram pra mim, tipo "olha aí o partidão".

Ele começou a falar sobre o barco do pai dele, sobre uma viagem pra Europa que tava planejando, e me puxou pra dançar uma música que tava tocando no quiosque. Eu fui, rindo, porque era fácil. Confortável. Sem faíscas perigosas. Mas enquanto dançávamos, olhei pro lado e vi o Cayo.

Ele tava encostado na moto, braços cruzados, olhando fixo pra gente. Olhar de ciúmes puro, daqueles que queimam. Ele tragou o cigarro devagar, sem desviar os olhos, como se estivesse me dizendo "isso não é pra você".

Meu coração acelerou de novo. Repulsa e atração, tudo misturado. Humberto era o cara seguro, o cara aprovado pelos meus pais. Já o Cayo era o problema, o desconhecido. Mas por que o olhar dele mexia tanto assim comigo?

A noite tava caindo, e eu sentia que Angra ia ser mais complicada do que eu imaginava. Mundos colidindo. E eu, no meio, sem saber pra onde correr.

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