Um Estranho em Angra

Analu

Chego em Angra e parece um sonho daqueles que eu vejo no I*******m, mas agora na vida real. Desço do carro na casa linda — uma mansão enorme à beira-mar, com piscina infinita que se mistura com o horizonte, quartos com camas king size e lençóis que parecem nuvem, e uma cozinha que qualquer chef de reality show invejaria. O ar cheira a sal, sol e dinheiro. Muito dinheiro.

Minhas amigas, Mari, Bia e Lú, já estão no modo "férias perfeitas": óculos escuros de grife, biquínis que custam uma fortuna e playlists de música pop chic tocando no som da casa.

— Meninas, isso aqui é o paraíso! — grita a Bia, jogando a bolsa na sala e correndo pra piscina.

Ela é assim, sempre a mais animada, com aquele corpo de quem faz pilates todo dia e come salada orgânica no almoço. A Mari, que é a líder do grupo sem ninguém precisar dizer, já abre uma garrafa de prosecco.

— Vamos brindar ao melhor fim de semana ever!

Eu sorrio, pego uma taça. "Ever" mesmo. Minha mãe aprovou a viagem na hora, desde que eu prometesse não fazer "nada que manche o sobrenome Bernardes". Como se eu fosse do tipo que faz escândalo. A Lú, a mais quieta, mas que adora uma fofoca, me cutuca:

— Analu, você tá com uma cara de quem tá pensando demais. Relaxa, gata! A gente veio pra curtir.

E é verdade. Eu tento relaxar. Depois daquela visão rápida do cara na rua no Rio — o tal do desconhecido com jaqueta de couro e cigarro na mão — minha cabeça deu uma pirada. Mas aqui em Angra? Aqui é outro mundo. Luxo puro: o motorista nos levou pra casa, tem uma empregada arrumando tudo, e o plano é praia de manhã, almoço num restaurante chique e festa à noite. Nada de preocupações. Nada de rotina. Só sol, mar e risadas forçadas pra fingir que tudo é perfeito.

No dia seguinte, após o café da manhã, a gente se troca rapidinho — eu opto por um biquíni verde-água com detalhes em ouro, daqueles que realçam a pele bronzeada sem exagerar — e vamos direto pra praia. A areia é branca, fina, e o mar calmo como uma piscina. Alugamos um espaço VIP em um quiosque badalado, com guarda-sóis enormes, espreguiçadeiras acolchoadas e um garçom só pra gente.

As meninas pedem drinks coloridos: caipirinhas de limão com vodca importada, e eu vou de água de coco com um toque de gin. Saudável, né? Mamãe aprovaria.

Deito na espreguiçadeira, óculos escuros no rosto, e pego meu livro de novo. Jane Austen outra vez. Mas minha mente não para quieta. Olho pro mar e penso: será que a vida é só isso? Sol, luxo e amigas que falam sobre as mesmas coisas sempre? A Mari tá contando sobre o novo crush dela, um filho de embaixador que ela conheceu num evento. A Bia ri alto, dizendo que vai postar tudo no I***a pra fazer inveja para as meninas do condomínio onde ela mora. A Lú concorda, tirando selfies. Eu? Eu sorrio e assinto, mas no fundo, tô entediada. De novo.

Depois de umas horas torrando no sol — com protetor fator 50, óbvio, porque rugas prematuras são o fim do mundo — a gente decide pedir algo pra comer, mas o garçom some e eu vou direto no quiosque. Levanto, jogo a saída de praia por cima, e caminho até o balcão.

O quiosque é daqueles charmosos, com teto de palha e música baixinha tocando MPB. Peço uns petiscos: camarões grelhados, salada de quinoa e mais drinks pras meninas. Enquanto espero, apoio no balcão e olho ao redor. Turistas, famílias, grupos de amigos... e então, meu coração dá um pulo.

Lá está ele. O cara da rua. Sento numa mesa improvisada com uns amigos, rindo alto, com uma cerveja na mão. Camiseta preta na praia? Meu Deus! A camiseta tá colada no corpo suado, definido, musculoso e usa uma bermuda jeans surrada, chinelo de dedo e aquele cabelo dele bagunçado que parece não ver pente há dias.

Os amigos dele são parecidos: tatuados, bronzeados do sol de rua, não de protetor solar caro. Um deles tem uma moto estacionada ali ao lado, vermelha e arranhada. Eles parecem... reais. Despreocupados. Como se não ligassem pro mundo ao redor.

Ele me vê primeiro. Ou pelo menos, é o que parece. Vira a cabeça, aqueles olhos castanhos fixam nos meus, e um sorriso torto surge no rosto dele.

Barba por fazer, cicatriz na sobrancelha... é ele mesmo. Meu estômago revira. O que ele tá fazendo aqui? Angra não é o tipo de lugar pros tipos como ele. Ou é?

— Ei, loirinha — ele diz, levantando da mesa e se aproximando do balcão, com um ar de quem está no controle total.

Voz rouca, sotaque carioca puro, daqueles que arrastam as palavras.

— Tá perdida por aqui? Ou veio só pra iluminar a praia?

Eu pisco, surpresa. Loirinha? Sério? Meu tom sobe automaticamente, como se eu estivesse lidando com um intruso no meu mundo perfeito.

— Perdida? Não, obrigada. Eu sei exatamente onde tô. E você? Parece que caiu de paraquedas num lugar que não é pro seu estilo.

Ele ri, baixo e provocativo, encostando no balcão do meu lado. Cheiro de cigarro misturado com suor e algo selvagem. Nada como os perfumes caros que os caras que eu conheço usam.

— Meu estilo? Ah, gata, meu estilo é em qualquer lugar que tenha sol e cerveja gelada. Mas você... você parece saída de uma revista. O que uma princesinha como você faz num quiosque como esse? Esperando um príncipe encantado?

Reviro os olhos, mas sinto um calor subindo pelo pescoço. Repulsa? Sim, porque ele é tudo que eu não devo querer: rude, confiante demais, com aquele ar de conquistador barato.

Mas atração? Droga, sim. Aquela confiança dele é magnética, tipo um ímã que puxa mesmo quando você resiste.

— Príncipe? Por favor. Eu não preciso de contos de fada. E você parece mais o vilão da história. O que tá fazendo aqui, afinal? Vendendo algo?

Ele se inclina um pouco mais perto, o sorriso crescendo.

— Vendendo? Nah, tô só curtindo. Mas se você quiser comprar um pedaço de diversão de verdade, eu vendo barato. Meu nome é Cayo, por sinal. E o seu, princesa?

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